A calamidade da Petrobras parece menor neste final de ano. Mas, mesmo nestes dias de trégua da vida dura, para alguns, a petroleira continua a sangrar. Janeiro tampouco será de férias para o crédito da empresa. A crise logo voltará a ferver, no mercado e talvez também em tribunais. Para fevereiro, está marcado ainda o início do tumulto político do Petrolão, com a provável acusação formal de parlamentares, ex-governadores e ex-ministros.
Não faltarão crises para Dilma Rousseff 2 administrar logo nos seus cem primeiros dias.
Pode haver mau humor popular com a batelada de aumentos de preços e impostos. Há desprezo entre amargo e cínico em relação ao ministério de Dilma 2, da esquerda à direita, mas trata-se por ora de um nojo de elite. O tempo pode ficar nublado mesmo devido à conjunção de medidas econômicas antipáticas com inflação a 7% e o sentimento de que a estagnação econômica chegou às ruas.
Há o risco de que se descubram rolos de ministros recém-nomeados, pois a presidente deu muita chance para esse azar, como diz o povo. Haverá um Congresso liderado por gente hostil, pressionado por movimentos sociais insatisfeitos com a nova política econômica. Há mesmo o risco, ainda remoto, de que voltem às ruas protestos contra o aumento de ônibus e trem.
Como se dizia, é possível administrar tais crises. Não vai ser fácil, até porque o governo terá de apagar incêndios que ele mesmo tocou. Conviria prestar especial atenção à Petrobras, pois esse fogo está fora de controle e se espraia em direção ao crédito do país e aos investimentos.
Nesta virada de ano, firmas de advocacia e investidores abutres lá de fora preparam-se para bicar o corpo doente da Petrobras. Farão o possível para atazanar, ameaçar e enfraquecer ainda mais a empresa, a fim de tirar vantagens. A petroleira está desmoralizada na finança mundial.
Gente que entende do riscado sabe do efeito dessas calamidades no crédito das demais empresas e nos investimentos em infraestrutura. Mesmo a Petrobras acaba de barrar negócios com 23 empresas, tidas provisoriamente como inidôneas. Por mais que a expressão "calote de Petrobras" seja por ora grito de piratas, o berro vai contribuir para a confusão: relutância em investir no Brasil, em emprestar para o país a preço bom, em tocar obras aqui dentro, dada a falta de perspectiva do que será desses investimentos.
Na noite de segunda-feira, dado o rumor de ataque de piratas e abutres, a Petrobras soltou uma nota em que prometia publicar um balanço até o fim de janeiro, cortar gastos a fundo, reduzir investimentos, cobrar dívidas, aumentar preços e fazer o diabo a fim de não precisar ir ao mercado pedir dinheiro emprestado (na mesma nota, fazia projeções otimistas para o preço do dólar e o do barril de petróleo, o que é preocupante).
É pouco e tarde demais. A Petrobras precisa de um plano assemelhado ao que vem sendo prometido pelos novos ministros para a política econômica. Trata-se não apenas de salvar o patrimônio público e de, talvez, evitar que o Tesouro Nacional tenha de cobrir rombos na empresa mas também de conter um tumulto que pode agravar os problemas políticos de 2015, que não serão poucos.