Em meio aos maiores reajustes em uma década, a alta das contas de luz põe em xeque as projeções do Banco Central para uma inflação no próximo ano abaixo do teto fixado na legislação.
Pelos cálculos do BC, o IPCA, índice usado como referência para as metas da política de juros, fechará 2015 entre 6% e 6,1%, enquanto a maior parte dos bancos e consultorias estima taxas mais próximas ou acima do limite máximo de 6,5%.
As previsões oficiais pressupõem uma elevação das tarifas residenciais de energia elétrica de 17% -percentual que, embora elevado, está abaixo dos esperados por analistas de mercado, que chegam aos 20%.
A conta de luz tem peso considerável no IPCA: em novembro, ela respondeu por 2,9% do orçamento familiar considerado para a apuração do índice, e essa parcela está em alta com o encarecimento da energia.
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A partir de janeiro, os reajustes ganharão o impulso do sistema de bandeiras tarifárias, que repassará mensalmente aos consumidores custos adicionais decorrentes da utilização de termelétricas, consequência da escassez de chuvas nos últimos meses.
Nesta sexta-feira (26), foi definido que o sistema promoverá em janeiro um acréscimo de 8,3% nas contas. Trata-se da bandeira vermelha, que caracteriza o cenário mais grave. As outras são verde, que não implica acréscimo na tarifa, e amarela.
Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, já esperava a cobrança extra na conta em razão da adoção da bandeira. Sua projeção, que embutia um aumento de 8,8% em janeiro, apontava uma alta de 18,6% no ano.
Ela não descarta uma alta na casa dos 20% em 2015, porque existem dúvidas sobre o repasse do aumento da energia de Itaipu (cotada, em parte, em dólar) e de encargos setoriais.
NOVA EQUIPE
A nova equipe da Fazenda, diz, já indicou que "tudo" será coberto pela tarifa, e que o governo não arcará mais com custos do setor elétrico. A Tendências deve revisar para cima a projeção de 6,3% para o IPCA no próximo ano.
Marcel Caparoz, da RC Consultores, já esperava "fortes aumentos" de transporte coletivo e energia em 2015, represados no ano eleitoral de 2014. Com esses reajustes, ele espera um IPCA de 6,5% no próximo ano, se "não vierem novos choques".
A taxa só não deve superar a meta, diz, graças à freada de alimentos e serviços por causa de um aumento menor do salário mínimo e juros mais elevados -o que restringirá o consumo.
Elson Teles, do Itaú, também calcula uma alta da energia em torno de 20%. Ele ainda projeta o retorno parcial da Cide, tributo sobre os combustíveis, que pressionará o preço da gasolina.
Sergio Vale, da MB Associados, estima um IPCA acima de 1% já em janeiro, a maior taxa desde 2003, e de 6,8% em 2015.
PREÇOS MONITORADOS
As discrepâncias entre as projeções do BC e do mercado ficam mais claras quando se observa o conjunto dos preços monitorados por União, Estados e municípios -incluindo, além da energia, gasolina, telefonia fixa, ônibus, metrô e outros.
Represados para reduzir a inflação no primeiro mandato da presidente Dilma, esses preços passarão por um período de correção para reequilibrar as contas dos governos e suas empresas.
As contas do BC adotam a hipótese de alta de 6,2% em 2015, bem abaixo dos 7,6% esperados pelo mercado.