Fábula do escorpião e o sapo | Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Muita gente preferiu fingir que o PT não era o PT, que Lula não era Lula, só para se livrar de Bolsonaro. A narrativa de ameaça golpista e fascista seduziu alienados desatentos
Oque é pior: Lula e seu PT ou o sistema podre e carcomido que comanda o país desde sempre? Os radicais de esquerda ou os fisiológicos que só querem explorar nossos recursos? Os revolucionários corruptos ou os carrapatos que enxergam o Brasil como um imenso hospedeiro? Responder esta questão não é trivial.
Afinal, estamos acostumados com o tal sistema podre, e, por puro pragmatismo e interesse próprio, os “donos do poder” querem manter a galinha dos ovos de ouro viva. Já os radicais petistas podem, com seu projeto ideológico, afundar de vez a nação, como acontece com a vizinha Argentina, elogiada pelo presidente.
O PT aparece com sua carranca feia, sem muito esforço para ocultar sua essência radical, sua simpatia por ditaduras comunistas, seu intuito controlador que clama por censura. Já o sistema “tucano” surge como democrata, moderado, legalista, tudo isso só na aparência. O que é pior? O trombadinha sujo ou o traficante limpinho que entra em nossa casa como alguém civilizado?
“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será facilmente sua presa”, alertara Schopenhauer. A serpente disfarçada pode oferecer mais perigo do que o monstro visível. Este nos desperta imediata reação, enquanto aquele vai nos enganando até o bote fatal. É a velha história do sapo escaldado cuja água foi aquecendo aos poucos.
“Uma cobra mal morrida tem de aparecer de novo para que a matemos definitivamente”, diz o ditado. O deputado Marcel van Hattem usou essa ideia para argumentar que é preciso enterrar de vez o petismo. “Ao não aproveitar a chance que lhe foi dada de uma nova Presidência da República para unificar o país e lavar a própria biografia diante de toda a nação, Lula está passando sua vez no tabuleiro político ao outro lado do corredor novamente”, escreveu o parlamentar.
O escorpião pica o sapo mesmo sabendo de sua estupidez suicida, pois não consegue negar sua natureza. “A julgar pelos cem dias passados, nem milhões de brasileiros insatisfeitos parecem abalar a convicção de Lula em trilhar o caminho do retrocesso, do ódio e do rancor”, aponta Marcel. Quem esperava um Mandela está assustado ao se deparar com Lula mesmo, cada vez mais raivoso.
Os “tucanos de mercado” que fizeram o L estão com medo. Tudo piora bem rápido no país. Muita gente preferiu fingir que o PT não era o PT, que Lula não era Lula, só para se livrar de Bolsonaro. A narrativa de ameaça golpista e fascista seduziu alienados desatentos. Plantaram vento e agora colhem tempestade. Alimentaram o corvo que pretende arrancar seus olhos.
Mas o sistema reage, e tem muita força. Os “pragmáticos” não vão simplesmente observar passivos a morte da galinha dos ovos de ouro. Não vão ficar de braços cruzados olhando o hospedeiro agonizar até a morte. Os parasitas dependem de sua sobrevivência, e esta está ameaçada pelo radicalismo petista uma vez mais. No passado, Dilma foi jogada para escanteio. A história não se repete, mas rima.
Pensem numa Tabata Amaral da vida. Fala mansa, pose de moderada, capaz de enganar muito mais gente do que uma comunista como a Manuela D’Ávila. Mas isso faz dela alguém menos perigosa, por acaso?
Marcel van Hattem conclui com alguma esperança seu artigo, lembrando com os Provérbios que “a soberba precede a ruína”. Amém, diz o deputado liberal. E faço coro, com uma ressalva: a derrota pode ser do escorpião, mas a vitória pode não necessariamente ser do Brasil. Afinal, o sistema sabe o que faz e tem interesses distintos e distantes daqueles do povo brasileiro.
Quando Eduardo Cunha liderou o impeachment de Dilma, virou o “malvado favorito” de muita gente boa. Mas Renan Calheiros, Sarney e companhia não representam o brasileiro trabalhador e honesto. A Globo, a Fiesp, os banqueiros “petistas”, os empreiteiros corruptos, essa turma toda que concentra enorme poder político não tem sua pauta alinhada àquela da nação, em que pese poderem divergir do petismo. Tiveram de fazer o L por falta de opção, e podem se livrar do escorpião petista se necessário, mas isso não garante nossa liberdade.
Não vamos esquecer que foi em governos estaduais tucanos que vimos o maior grau de autoritarismo durante a pandemia, com até gôndolas de supermercado fechadas aleatoriamente. Não vamos ignorar que são os ministros supremos ligados aos tucanos que comandam os inquéritos ilegais e arbitrários para perseguir a direita. Os comunistas assustam, com razão, mas os globalistas também deveriam assustar, e muito. Talvez até mais, por serem mais moderados na aparência.
Pensem numa Tabata Amaral da vida. Fala mansa, pose de moderada, capaz de enganar muito mais gente do que uma comunista como a Manuela D’Ávila. Mas isso faz dela alguém menos perigosa, por acaso? Suas concessões ao mercado e suas críticas pontuais às tiranias comunistas podem iludir os desatentos, mas Tabata fez o L, admira a história do PT e vai para China com Lula toda contente. Já deu sinais de autoritarismo várias vezes, conseguiu a demissão de um humorista, e, se tivesse mais poder, certamente partiria para a censura ampla aos direitistas. Tudo em nome da democracia, claro.
O “fascismo do bem” tende a ser mais temerário do que o comunismo escancarado, pois os ungidos não demonstram qualquer crise de consciência durante o processo de eliminar adversários, já que se enxergam como libertadores iluminados. Partindo da premissa de que todos de direita são “extremistas” e “golpistas”, essa turma com perfil tucano avança rumo ao totalitarismo.
O teatro das tesouras consiste na falsa disputa entre petistas e tucanos, entre esquerda radical e esquerda “fofa”. Compreender que o tucanato que fez o L pode até considerar Lula descartável, mas que representa ameaça tão nefasta quanto o petismo é crucial para o futuro do Brasil. Não foi a turma petista, afinal, que numa canetada censurou minhas redes sociais, congelou minhas contas bancárias e cancelou meu passaporte, tudo isso sem qualquer indício de crime cometido.
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