O ditador Fidel Castro e Loola, em revista às tropas, na Colômbia, em setembro de 2003 | Foto: Antônio Milena/Agência Brasil
Em frentes aos quartéis, multidões clamam por eleições limpas e isonômicas, por entenderem como uma espécie de farsa o processo que acabou dando a vitória ao candidato socialista
No estúdio da Jovem Pan, uma cena marcou o encerramento de uma das eleições mais conturbadas e decisivas da história brasileira. Regressando à casa após uma semana de afastamento compulsório, a comentarista cubana Zoe Martínez — censurada por ordem do TSE na reta final do período eleitoral, apenas por dizer verdades inconvenientes sobre o candidato socialista preferido pelos ministros da Corte — foi convidada a opinar sobre a vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Ato contínuo, sua voz embargou e os olhos marejaram: “Eu achei que hoje seria um dia para comemorar a minha volta e também comemorar a vitória [de Bolsonaro], mas… eu não vou chorar… infelizmente a gente não conseguiu”.
Para qualquer pessoa razoável (e, portanto, não possuída pelo espírito do antibolsonarismo psicótico), a cena comove, sobretudo se considerado o contexto que a envolve. Zoe e família foram forçadas a sair de Cuba — a pequena ilha comandada há mais de 60 anos por uma ditadura narcossocialista — em busca de liberdade e prosperidade. Em vez disso, por obra de um Tribunal Eleitoral partidarizado, acabou encontrando, ainda que em estado germinal, justo aquilo de que fugira: censura, perseguição política, violação de liberdades e direitos fundamentais. E agora corre o risco de ver o país anfitrião cair nas garras do maior aliado regional dos ditadores de seu país natal.
Não se pode esquecer que, junto com Fidel Castro, Luiz Inácio Lula da Silva foi o fundador do Foro de São Paulo, a organização que reuniu partidos, movimentos de esquerda e grupos narcoterroristas como as Farc em torno do objetivo de “recuperar na América Latina aquilo que se perdera no Leste Europeu”, ou seja, o comunismo. Foi agindo em favor do Foro que o lulopetismo saqueou as estatais brasileiras para financiar as ditaduras companheiras em Cuba, na Venezuela, na Nicarágua etc. E presume-se que, uma vez voltando ao poder, o lulopetismo retome com mais vigor esse projeto temporariamente interrompido. O narcoditador Nicolás Maduro, por exemplo, já fala abertamente em “retomar a agenda de cooperação”.
O sentimento expresso pelo choro contido de Zoe Martínez deve ser também o dos tantos venezuelanos que, dentre outros destinos, escolheram o Brasil como refúgio das desgraças impostas pelo regime chavista. Como mostra o impactante documentário Acolhidos: a Verdade Sobre o Fracasso da Esquerda na Venezuela, dos diretores Gustavo Lopes e Anderson Rodrigues, mais de 5,4 milhões de venezuelanos — cerca de 1/5 da população total — já deixaram o país fugindo da fome e da violência política perpetradas pela ditadura de Maduro. Desses, aproximadamente 800 mil vieram para o Brasil, sendo recepcionados pela Operação Acolhida, organizada pelo governo de Jair Bolsonaro em parceria com mais de cem entidades humanitárias, com o objetivo de prover abrigo, alimento, assistência diplomática, atendimento médico e inserção socioeconômica aos exilados. “Quando as pessoas começaram a perceber que havia algo errado, já era tarde” — diz um dos entrevistados no documentário, sobre o rápido colapso econômico, político e social na Venezuela. Dá para imaginar como toda essa gente deve estar se sentindo agora que o Brasil parece ter cometido o mesmo erro, reconduzindo ao poder o principal amigo e aliado de Maduro.
Os milhões de pessoas que ora ocupam as ruas do país teimam em resistir à provável instauração de uma ditadura socialista no Brasil
É justamente por temer esse destino que uma parte da sociedade brasileira, com notável resiliência e senso da realidade, sai às ruas para protestar contra o resultado da eleição do último domingo (30/10). Hoje, enquanto escrevo estas linhas, há um país conflagrado. Em frentes aos quartéis de várias regiões do país, multidões enfrentam sol e chuva para clamar por eleições limpas, transparentes e isonômicas, por entenderem como uma espécie de farsa o processo que acabou dando a vitória ao candidato socialista, um ex-condenado por corrupção politicamente reabilitado pelas mesmas autoridades judiciais que conduziram o pleito de maneira abertamente parcial e nada republicana, tratando o atual presidente — e por extensão seus eleitores e apoiadores — como se fora uma aberração incompatível com a assim chamada democracia.
Mas a concepção da eleição como farsa foi, aliás, admitida há 20 anos pelo próprio Luiz Inácio Lula da Silva, então prestes a vencer sua primeira eleição presidencial. “A eleição é uma farsa pela qual é preciso passar para chegar ao poder” — disse à época o candidato petista ao jornal francês Le Monde, uma fala não repercutida pela imprensa brasileira, que já ali gostava de fingir que um socialista parceiro de Castro e Chávez pudesse ser algo parecido com um democrata. Vinte anos depois, ao que parece, a “farsa” tornou a se repetir…
Ostracizados pela imprensa, desprezados pelo establishment político e escarnecidos por membros dos Tribunais Superiores, os milhões de pessoas que ora ocupam as ruas do país teimam em resistir à provável instauração de uma ditadura socialista no Brasil. Depois de testemunharem por quatro longos anos a recusa por parte do establishment de aceitar a agenda eleitoral democraticamente vitoriosa em 2018, parecem ver como a gota d’água a imposição de um presidente da República retirado diretamente da cadeia e previamente proclamado pelo Tribunal Eleitoral. Esse sentimento fervilhante de indignação dificilmente será contido na marra, ainda que o novo regime esteja disposto — como sempre estão regimes de tal estirpe — a empregar doses cada vez maiores de violência e repressão política. Não, definitivamente, não teremos um país pacificado pelos próximos anos.
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Revista Oeste