Retração da economia atiça críticos, mas desempenho do país foi melhor do que os piores prognósticos no início da pandemia
A quarta-feira começou com a notícia de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro fechou 2020 em queda de 4,1% em comparação ao ano anterior, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A oposição ao governo Jair Bolsonaro no Congresso e o main stream que lhe dá lastro posicionou seus canhões em manchetes, claro, para apresentar o quadro negativo — que, de fato, é — sobre a economia. Mas alguém olhou para a grama do vizinho?
No meio do terror do noticiário, lá pelo último parágrafo aparecia uma notícia importante, mas quase esquecida: houve reação no quarto trimestre do ano passado (alta de 3,2% na comparação com os três meses anteriores). Leia-se: quando os governadores empoderados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) autorizaram a população a sair de casa, a economia aqueceu. Aliás, serão eles, mais uma vez, os responsáveis por novas restrições ao funcionamento da vida — da vida, isso mesmo, porque mais de 90% dos brasileiros precisam trabalhar para comer, dar de comer e pagar seus incontáveis impostos em dia.
A estratificação dos dados do IBGE ainda aponta que: 1) motor do país, o agronegócio registrou crescimento (2%); 2) a indústria declinou 3,5%, mas os profetas do caos previam usinas de sucata no começo da pandemia; e 3) o setor de serviços recuou 4,5%, mas nenhuma área fez melhor do limão uma limonada nessa crise.
Mas repito a pergunta: alguém olhou para a grama do vizinho? Na Europa, onde o vírus bateu à porta primeiro, a Espanha despencou 11%, o Reino Unido, 10%, e a Itália, 9%. No Japão e na Alemanha, houve retração de 5%, maior do que no Brasil.
Em meio à pior pandemia em um século e num 2020 que parece não querer acabar, o Brasil “fez o que podia fazer”, resumiu o secretário nacional de políticas econômicas, Adolfo Sachsida, em entrevista à rádio Jovem Pan. Não há o que comemorar com esses números. Mas quem, no mundo, comemorou? A China, talvez — mais uma vez.
Sílvio Navarro, Revista Oeste