quarta-feira, 31 de março de 2021

"O choro é livre, você não!", por Claudio Luís Caivano - Advogado

 

A liberdade é um bem inestimável, um direito inalienável, inarredável e inegociável. A liberdade não deve, não pode ser flexibilizada, pois, quem negocia parte dela em troca de naco que seja, de segurança, já a perdeu completamente, como dito nas palavras de Benjamim Franklin, que dispensa apresentações.

A liberdade é a genuína expressão humana, que só pode ser atingida em sua plenitude, pelo conhecimento. Vivemos na Era da comunicação, mas o ser humano parece ter abandonado o gosto pela literatura há dois séculos e junto com ela seu apreço pela liberdade.

Cogito, ergo sum. A educação como ente limitador do estado de consciência do indivíduo enquanto indivíduo, parece estar diretamente ligado ao estado de liberdade dos dias atuais. Liberdade, consciência, conhecimento são as primordiais expressões do pensamento individual, “penso, logo existo”, nas palavras de Descartes.

O filósofo buscou em si mesmo a própria desconstrução humana como metodologia de pesquisa para concluir que a prova de nossa existência é o pensamento. O pensamento representa a ideia ontológica de liberdade individual, algo que não pode ser vigiado ou controlado, entretanto, pode ser guiado pela doutrinação através da educação.

A liberdade veio sendo lenta e gradualmente mitigada no único lugar em que o pensamento pode ser guiado e doutrinado, ou seja, nas escolas, pela educação das crianças através da doutrinação da forma de pensar. Se temos um Estado social, eis a resposta.

Estudiosos da psicologia tentam explicar a dificuldade de aceitar o outro, a opinião do outro e, pior, o pensamento do outro, em virtude da dissonância cognitiva. O ser dissonante tem dificuldade em aceitar que o outro pensa diferente de si e mais, que ele pode ter razão e mantem sua argumentação enquanto ele se perde em repetições em uma espiral infinita.

A tecnologia, para o pensamento humano, já nasceu ultrapassada, pois, há muito, existe a doutrinação. Nesta oportunidade, caríssimo leitor, vou me abster de adentrar as questões ideológicas, ao contrário, pois, não pretendo discursar sobre o problema, pretendo entender sua origem.

Raras vezes na história defensores da liberdade foram tão atacados, questionados, violentados e cancelados como nos dias correntes. Utilizaram diversas digressões de linguagem para justificar e adotaram um sem número de adjetivos pejorativos para rotular este tipo de indivíduos.

Utilizaram o mantra da ciência para afirmar que são negacionistas, anti-vacinas, genocidas e outras terminologias bárbaras, grosseiras, rudes e toscas, próprias de pessoas que perdem o poder de argumentação quando confrontados por sua própria dissonância cognitiva.

Tal qual animal acuado, com o confronto encurralado, sobra violência, agressividade e ataques. Neste ponto, não há mais o que discutir, argumentar, arguir, somente uma saída é possível, abandonar o diálogo ou qualquer coisa minimamente parecida com isso.

Vejamos rapidamente, a título de exemplo, o episódio do cabo Wesley que ousou se levantar contra o estado de coisas e foi executado por 12 disparos de fuzil por seus colegas de farda. Não tenho outro argumento ou palavra para classificar tal episódio que vitimou o policial militar, uma vez que poderia ter sido imobilizado por tiros nas pernas, por exemplo em número reduzido, mas, foi utilizada força letal em uma demonstração cabal de que os defensores dos momentos atuais são os editores da verdade!

Vidas negras importam, além de um lugar comum, como todas as demais vidas importam, tornou-se um movimento que nasceu nos EUA após a morte de um negro que resistiu a prisão e ao comando dos policiais, que já possuía passagens pela polícia, histórico de agressão e que mesmo repreendido pelos policiais tentou pegar uma faca. Eis os fatos!

Diferentemente do que poder-se-ia imaginar, ou seja, de levar a julgamento os policiais por excesso ou por abuso de força letal, ainda que provocado pela própria vítima, tornou-se um epíteto da defesa dos negros contra o racismo. George Floyd era seu nome!

George foi devidamente tratado como vítima de um abuso de força policial e alçado imediatamente e um ícone desta resistência em uma suposta defesa contra todo um sistema racista que sobrevive no mundo. No entanto, o mesmo episódio ocorrido no farol da Barra na Bahia, revela-se um movimento sectário, politicamente inflado e que merece o descrédito absoluto uma vez que Wesley não teve o mesmo tratamento por parte do movimento.

Todas as vidas importam! Umas mais, outras menos.

Levanto-me aqui em defesa dos milhares de policias militares que deixam seus lares e suas famílias para defender a sociedade, para defender a lei e a ordem, desde que essas ordens não sejam dadas contra a própria sociedade. O cabo Wesley se levantou contra ordem inconstitucional, contra ordem que determinava a prisão de cidadãos de bem, frente um toque de recolher inconstitucional, totalmente ilegal, arbitrário, ditatorial e estamos discutindo que o cabo Wesley portava um fuzil, uma arma com alto poder letal e que atirava pra cima, e que, supostamente, teria atirado na direção de seus companheiros de farda, longe deles, mas, em sua direção.

O tiro de advertência não existe mais, a negociação com alguém que supostamente perdeu momentaneamente a sanidade mental, ainda que dentro de parâmetros altamente morais, éticos e humanos, não existe mais. A voz que se levanta contra ordens ditatoriais deve ser silenciado e nem os movimentos de defesa pela vida dos negros se pronuncia. Wesley era negro!

O choro vai ser livre?

Wesley deixou família!

O choro deles é livre?

Não meu preclaro leitor, o choro deles não é livre, porque Wesley já foi condenado à morte por seus irmãos de farda!

Quando você negocia uma parte da sua liberdade em troca de um pouco de segurança, você já foi escravizado e está condenado a prisão domiciliar!

Você negociou sua liberdade por uma esmola em nome de segurança e o cabo Wesley se rebelou, morreu por você, mas, vidas negras importam, umas mais que outras. Sua dissonância cognitiva te manterá seguro, não somente porque nenhum pensamento libertário há de te fazer encontrar a verdade e enxergar a realidade, você está cego de medo e não percebeu que para eles, sua vida importa tanto quanto a do cabo Wesley.

O governo federal brasileiro, alijado de suas prerrogativas pelo STF, aplicou e transferiu bilhões de reais em todos os estados para o combate à pandemia e mesmo assim faltam leitos, mesmo assim faltaram insumos, respiradores, máscaras, seringas e medicamentos. Não se preocupe, não tem como você não estar certo, você está em casa em segurança enquanto eles fazem festa, viajam internacionalmente, mas, você, está proibido de ir ali no parque, na rua, na praia.

Não se preocupe, mantenha-se seguro! É para o seu próprio bem! Sua vida importa tanto para eles quanto a do cabo Wesley.

Quando você, enquanto cidadão, vê um policial militar, um policial civil ou mesmo um guarda metropolitano agredindo um cidadão de bem e você apoia a atitude porque tem empatia pelas vítimas da pandemia e não pelo cidadão de bem que quer trabalhar, você não tem empatia. Você não sabe o que se passa na vida daquele indivíduo que muito provavelmente precisa trabalhar pra comer. Você não tem empatia, você é só mais um covarde hipócrita que testemunha uma agressão física e constitucional diante dos seus olhos e aplaude ou foge!

O cabo Wesley foi um exemplo de dignidade. Ele se recusou a atender a ordem inconstitucional de prender cidadãos de bem que desejam trabalhar, porque ele sabia que se ele não fizesse, você também não faria. Você não vai questionar um policial que alega cumprimento de um decreto que não tem lei que o ampare, porque você acredita na mídia que afirma que não é toque de recolher, você pode ir onde quiser, mas, no lugar que eles permitirem, no horário que eles determinarem.

Você é só mais um covarde hipócrita que não percebe que sua vida vale tanto quanto a do cabo Wesley, que se levantou para te defender e foi condenado à morte, mas, não se preocupe, você é o empático e está em segurança; a segurança das ovelhas que estão em prisão domiciliar.

Afinal de contas, choro é livre!

Claudio Luís Caivano - Advogado especialista em Dir. Tributário e Compliance

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