sexta-feira, 24 de julho de 2020

‘Números de queimadas na Amazônia são manipulados’, diz Evaristo de Miranda, pesquisador da Embrapa

Segundo o técnico, a região medida pelo Inpe é ‘uma área florestal definida em 1988, que pega 89% do bioma e 76% da Amazônia Legal’


O doutor em Ecologia e chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, disse nesta sexta-feira, 24, em entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, que os números das queimadas na Amazônia são “manipulados”. Segundo ele, a região medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) não é a Amazônia Legal, nem o bioma, nem a bacia amazônica, mas sim “uma área florestal definida em 1988, que pega 89% do bioma e 76% da Amazônia Legal”. “Precisamos tomar cuidado ao pegar números e jogar sob a região. Esses números são manipulados”, afirmou. “Tem muita fake news e desinformação em relação à Amazônia, as pessoas não sabem nem de qual Amazônia estão falando”, continuou.

Para Miranda, o Brasil precisa de “ciência, números e fatos” ao falar sobre o assunto. Por isso, o pesquisador disse achar necessário que o governo faça um relatório anual sobre a situação da Amazônia incluindo os fatores ambientais, sociais, econômicos, entre outros, já que, atualmente, “não temos uma referência”. “Temos um grande avanço com a responsabilidade do [vice-presidente] Mourão em estar coordenando uma atividade supraministerial”, afirmou. Hamilton Mourão está à frente do Conselho Nacional da Amazônia, que tem por objetivo coordenar e acompanhar a implementação das políticas públicas relacionadas à região.

De acordo com Miranda, a prioridade número um para a sustentabilidade da Amazônia é a regularização fundiária, conjunto de medidas que visam à regularização de assentamentos e à titulação de seus ocupantes. “Hoje você quer multar quem está errado, mas a pessoa nem existe. Precisamos progredir em relação à regularização fundiária e à regularização ambiental, além de ajudar os pequenos agricultores”, afirmou. A Medida Provisória 910/2019, que trata do assunto, perdeu a validade sem ser votada nos Plenários da Câmara dos Deputados e do Senado. Diante da polêmica sobre o texto, os deputados resolveram apresentar um projeto de lei em substituição à medida, o PL 2.633/20.

O pesquisador criticou, ainda, a “seletividade” da mídia em só citar as queimadas ocorridas na Amazônia. Nesta sexta-feira, a Nasa divulgou um mapa de incêndios florestais em todo o mundo. “Vemos a quantidade absurda de queimadas na África, Madagascar, mas ninguém fala nada disso. No Brasil, vemos uma quantidade muito pequena comparada à isso. Foram 10 mil queimadas do início de janeiro até aqui. No Paraguai, foram mais de 14 mil; na Argentina, mais de 23 mil; e na Venezuela, mais de 35 mil. Como um presidente europeu vai falar que a nossa Amazônia está em chamas?”, questionou.

Jovem Pan