sexta-feira, 31 de julho de 2020
A Revista Oeste e "a versão progressista da segregação racial, os autossegregados ministros da Suprema Corte e a importância de estabelecer limites para dar significado à experiência humana"
Há um tipo de segregação racial em curso perpetrado por… antirracistas. Isso mesmo. Sob pretexto de criar “espaços seguros” para que negros não sejam expostos a situações com potencial de ensejar preconceitos, os ativistas querem agora separar os indivíduos de acordo com a raça — embora o próprio conceito de “raça” a partir da cor da pele seja preconceituoso. Universidades norte-americanas têm organizado cerimônias de abertura de ano letivo especialmente para alunos afrodescendentes. Há até as que criaram alojamentos separados para estudantes brancos e negros. No Reino Unido, uma jornalista-militante, autora de um livro alçado a best-seller pelo movimento Black Lives Matter, defende a ideia de que não tem como um branco não ser racista. É racista, sim, e ponto-final.
Carrega nas entranhas o gene do racismo. Mesmo se for casado com uma negra e tiver um filho miscigenado. A miscigenação, aliás, tornaria as relações raciais “mais complicadas”. E, como a missão atual é “descomplicar”, melhor mesmo é não misturar. Eis os valores que a nova esquerda busca instituir — e, em certos casos, tem obtido sucesso. O fenômeno é examinado por Fraser Myers, da Spiked, no artigo “Caminhamos sonâmbulos para a segregação”. E as raízes e consequências das incendiárias manifestações em Portland são objeto da análise de Ana Paula Henkel no texto “A violenta revolução progressista”.
Uma modalidade de autossegregação é observada num certo tribunal no Distrito Federal. Numa Corte da qual os onze integrantes se julgam acima dos humanos “normais”. Eles não precisam puxar cadeiras, ficar em filas, fazer check-in em aeroportos ou hotéis, espetar o cartão de crédito na maquininha, reclamar com o provedor de internet da conexão instável. Não. Nada disso. Estão certos de que habitam um éter acima desta prosaica e malfadada realidade, uma magistrosfera exclusiva. E todo o seu entourage, naturalmente, está sempre presente para confirmar essa peculiar visão de mundo — ou “de outro mundo”. É esse o tema de mais um artigo extraordinário assinado por Augusto Nunes.
A ideia de que os onze iluminados estão além da humanidade efêmera materializa-se na missão de “editar” o que os cidadãos brasileiros poderão ou não ver na internet. Os ministros do Supremo Tribunal Federal agora se acham responsáveis por essa nova e colossal incumbência, a de serem “editores de um país inteiro, de uma nação inteira, de um povo inteiro”, como anunciou — solenemente, porém num português claudicante — o presidente da Corte, Antonio Dias Toffoli. “O STF passou rapidamente da ilegalidade para o disparate, e do disparate para o delírio — é onde estamos no momento”, escreve J. R. Guzzo. O colunista Guilherme Fiuza também discorre sobre o tema: “Vários intelectuais corajosos se posicionaram em apoio aos supremos editores da nação. Eles acharam os critérios excelentes e argumentaram que essa edição rigorosa vai limpar o debate nacional.”
A necessidade de que o país passe a discutir seriamente novas normas para a ocupação das cadeiras do STF é um dos assuntos de maior relevância abordados na entrevista que o experimentado jurista Modesto Carvalhosa concedeu ao repórter Afonso Marangoni. Para Carvalhosa, o Supremo e o próprio Estado precisam atuar sob imposições de limites mais restritos — preferencialmente, estabelecidos por uma nova Constituição.
Limites entre o público e o privado, entre crianças e adultos e mesmo entre nações estão no cerne da conversa que a editora Paula Leal teve com o sociólogo Frank Furedi. Furedi, já apresentado aqui anteriormente neste espaço da Carta ao Leitor, é uma das mentes mais notáveis do pensamento conservador contemporâneo. Portanto, é uma satisfação tê-lo no time de colunistas da Revista Oeste.
Desta feita, no entanto, ele participa na condição de entrevistado. Fala sobre seu livro recém-lançado, Why Borders Matter — Why Humanity Must Relearn the Art of Drawing Boundaries (“Por Que Fronteiras São Importantes — Por Que a Humanidade Deve Reaprender a Arte de Estabelecer Limites”). Trata-se, sem dúvida, de uma reflexão pertinente.