Após o recuo de 2% da véspera, o dólar comercial sustentou a tendência de queda nesta quarta-feira. A moeda americana encerrou os negócios valendo R$ 5,282, com desvalorização de 1,25%. Este é o sexto pregão consecutivo em que o dólar fecha em queda. Entretanto, no ano, a divisa dos EUA ainda acumula alta de 31,75% contra o real.
Nesta sessão, as atenções do mercado se voltam para a Europa, onde um fundo de recuperação econômica de 750 bilhões de euros foi aprovado pela Comissão Europeia. No mercado acionário, o Ibovespa (índice de referência da Bolsa de SP) subiu 2,9%, aos 87.946 pontos, impulsionado pelo plano de reabertura da economia paulista.
A quantia equivale a cerca de R$ 4,4 trilhões e tem objetivo de oferecer ajuda para que as 27 nações do bloco consigam se recuperar da atual recessão econômica causada pela pandemia da Covid-19. Agora, o texto precisa da aprovação dos países que compõem a União Europeia.
— O pacote contribui positivamente para os mercados porque ele vai fornecer liquidez em um momento importante. Com esta injeção, além dos planos de reabertura das economias nos Estados Unidos, Europa e parte da Ásia, a expectativa do mercado é que a cadeia de comércio global comece a ser retomada — destaca Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora.
Sobre a queda mais acentuada do dólar frente ao real nesta semana, Velloni destaca que a moeda brasileira teve uma desvalorização muito grande nos últimos meses. Por isso, em um momento de menos instabilidade nos mercados, a recuperação aparece de uma forma mais visível:
— O Brasil foi afetado também pelos atritos políticos, que foram refletidos no câmbio. Agora, com os Poderes em um tom mais conciliador, e com o cenário externo menos conturbado, o real encontra espaço para se recuperar de parte das perdas sofridas recentemente.
Este primeiro passo animou os investidores, o que foi refletido nos índices acionários da Europa. O FTSE (Londres) subiu 1,26%. CAC (Paris) e DAX (Frankfurt) fecharam com ganhos de, respectivamente, 1,79% e 1,33%. Em Wall Street, também é dia de ganhos. Dow Jones e S&P subiram, na ordem, 2,21% e 1,48%. Nasdaq teve ganhos de 0,77%.
A Bolsa eletrônica de NY foi impactada pela queda de 1,32% nas ações do Facebook, recuo provocado por uma denúncia junto à SEC de que a empresa de tecnologia negligenciou práticas ilegais na plataforma.
O Livro Bege do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) apontou que a atividade econômica caiu em todos os distritos americanos, considerando o período até 18 de maio. O documento da autoridade monetária também indicou que aumentou a demanda por crédito do Programa de proteção de Pagamentos, o que é apontado como um atenuador das demissões no país. O Livro Bege é a base das decisões monetárias dos EUA.
Ainda na agenda externa, o preço do barril de petróleo tipo Brent (referência internacional) caía 5,72% no fechamento do mercado brasileiro, negociado a US$ 34,10.
Internamente, os investidores seguem atentos à cena política. O mercado segue avaliando as relações entre os Três Poderes, além de monitoras os pacotes de estímulo e o aumento dos gastos públicos. Mais cedo, o governo federal divugou os dados do Cadastro geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre março e abril, foram fechados 1,1 milhão de postos com carteira assinada. O dado, embora robusto, não interferiu no comportamento dos mercados.
— Ninguém no mercado esperava um número positivo. O forte fechamento de postos de emprego já era uma realidade para os investidores, a divulgação do número só corroborou a projeção. Bem antes, a realidade de fragilidade no mercado de trabalho já era um indicador levado em conta pelo mercado, por isso a divulgação oficial não teve tanta relevância assim — destaca Mauricio Pedrosa, gestor da Áfira Investimentos.
Reabertura da economia de SP
Na tarde desta quarta, o governador João Doria (PSDB) apresentou o plano inicial para a reabertura da economia paulista. A retomada das atividades será gradual e depende do setor e da região do estado. O prijeto será implementado a partir da próxima segunda.
A decisão foi bem recebida pelo mercado, fazendo a Bolsa brasileira operar com ganhos próximos a 3%. O destaque de alta ficou por conta das varejistas, beneficiadas com a reabertura da economia. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) das Lojas Americanas subiram 7,43%. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) de Magazine Luiza e Via Varejo (dona das Casas Bahia e Ponto Frio) avançaram, respectivamente, 4,47% e 5,27%.
— Investidores gostam de estratégias bem definidas, e é isso que foi apresentado há pouco em São Paulo, um importante polo econômico do país. A notícia da reabertura gradual por lá foi bem recebida pelo mercado, que reflete este bom humor na Bolsa — pontua Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Após o pregão negativo da véspera, o setor bancário, de maior peso no Ibovespa, fechou em alta nesta quarta. As ações ON do Banco do Brasil subiram 0,36%. Os papéis PN de Bradesco e Itaú Unibanco avançam respectivamente, 1,72% e 3,13%.
As aéreas listadas no Ibovespa seguiram a toada de ganhos do Ibovespa. As ações da Azul avançaram 0,81%; as da Gol, 0,65%. Na Bolsa de Nova York, as ações da Latam caíram 27,38%. A empresa entrou com pedido de recuperação judicial, mas a medida não inclui sua operação no Brasil.
Gabriel Martins, O Globo