quinta-feira, 28 de maio de 2020

Demanda por diferentes fontes de energia diminuiu, diz Julia Fonteles

Renováveis: protagonismo aumenta
Eletrificação do sistema é necessária
"A maior ressalva na distribuição das renováveis é o problema da intermitência. A suposta necessidade das usinas de base para suprir a demanda na ausência do sol, vento e água é convincente", diz Julia FontelesFoto: Freepik

relatório anual da Agência Internacional de Energia (IEA) 2020 mostra uma diminuição de 3,8% na demanda global de energia em relação ao ano passado, devido aos efeitos econômicos causados pela crise da covid-19.
Segundo o relatório, a demanda por diferentes fontes de energia reduziu expressivamente, com exceção à energia renovável que aumentou 1,5%. Medidas de confinamento restringiram a locomoção de pessoas e o consumo em prédios comerciais, levando matrizes energéticas a cortarem geração de energia das termelétricas e usinas nucleares, consideradas usinas de base.
À medida que atividades econômicas retomam ao normal, o mercado vai se adaptando a novas realidades. Investimentos em renováveis atingiram preços competitivos em 2018 e representam uma alternativa atraente para o consumidor. Embora as vantagens das renováveis não sejam novidade, a diminuição na demanda de energia fóssil e a suposta dependência nas usinas de base reforçam a viabilidade de um mundo cuja maioria das fontes de energia são renováveis.
Segundo o estudo da Administração de Informação de Energia (EIA) dos Estados Unidos, prédios comerciais são menos eficientes que residenciais. Isso explica que mesmo com um aumento no consumo de energia residencial como consequência da quarentena, a demanda geral diminui com a paralisação das atividades comerciais e de locomoção.
O aumento da eficiência residencial pode ser atribuído ao desenvolvimento de sistemas de calefação geotérmico, refrigeração e fogão elétrico, lâmpadas led e painel solar residencial. A implementação e regulamentação uniforme dessas tecnologias no setor comercial diminuirá o consumo norte-americano de energia em 0,2% por ano até 2050.
Existe, porém, uma distinção entre o aumento da eficiência e a eletrificação do sistema. Um carro mais eficiente, por exemplo, é um carro que consume menos combustível por quilometro rodado. Enquanto um carro elétrico não emite combustível fóssil. Embora o aumento da eficiência de energia represente um esforço apartidário na política, a eficiência do sistema não vai acabar com a emissão de gases de efeito estufa (GEE).
O objetivo deve focar não só na diminuição da emissão de gases poluentes, mas cortá-la por completo. Após atingir o limite de eficiência, a solução é caminhar para uma eletrificação completa de todos os setores da economia, abastecidos por energias limpas.
A maior ressalva na distribuição das renováveis é o problema da intermitência. A suposta necessidade das usinas de base para suprir a demanda na ausência do sol, vento e água é convincente. Uma das soluções é o desenvolvimento das tecnologias de armazenamento.
Novas descobertas na capacidade de armazenamento do hidrogênio e baterias avançadas estão sendo estudadas para aumentar o uso de energia gerada pelas fontes renováveis.
De acordo com o relatório da Bloomberg NEFNew Energy Outlook 2019, a projeção de investimentos em novas fontes de energia para 2050 é de $13,3 trilhões de dólares. Desse valor, 77% serão destinados a energia renovável ($4,2 trilhões para energia solar, $5,3 trilhões em energia eólica e $843 bilhões de dólares em tecnologias de armazenamento).
Outra solução complementar é a diminuição da dependência das usinas de base. O aumento do consumo de energia solar durante a crise da covid-19 mostra que sistemas de armazenamento residenciais são capazes de aguentar o consumo cotidiano. À medida que prédios comerciais adotem sistemas de otimização semelhantes e se tornem mais independentes na geração de energia, a dependência de energia fóssil diminui cada vez mais.
O mundo tem capacidade de suprir a demanda mundial de energia por meio de energia solar e eólica. Ao contrário do que se imaginava, a tecnologia para um mundo livre de combustíveis fósseis já existe e pode ser adotada em grande escala. É claro que o desenvolvimento de novas tecnologias é sempre bem-vindo e devem ser acrescentadas ao leque de soluções possíveis. Porém, uma transição mais rápida requer uma otimização de investimentos na eletrificação do sistema e na distribuição de renováveis em grande escala imediata.
Poder360