quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

"Mal educada e má perdedora: Pelosi retrata aflição democrata", por Vilma Gryzinski

House Speaker Nancy Pelosi of Calif., tears her copy of President Donald Trump's State of the Union address after he delivered it to a joint session of Congress on Capitol Hill in Washington, Tuesday, Feb. 4, 2020. (AP Photo/Alex Brandon)

Nada triunfal: o gesto infantil de Nancy Pelosi pega mal até para parte dos antitrumpistas Alex Brandon/ AP Photo/VEJA


Estaria a experiente e veteraníssima Nancy Pelosi perdendo a cabeça fria que lhe permitiu ser presidente da Câmara dos Deputados, o terceiro cargo na hierarquia da república, não uma, mas duas vezes?
Ou ela fez de caso pensado, tentando ofuscar Donald Trump com o gesto intempestivo de rasgar a cópia discurso dele ao Congresso, uma ocasião anual solene?
Em qualquer uma das hipóteses, foi mal educada. A oposição pode ter achado o máximo, mas pega mal para uma senhora de 79 anos, sentada na posição mais importante, ao lado do vice-presidente, partir para uma atitude tão infantil, esquentada ou, simplesmente, trumpiana.
Imitar o inimigo até em seus gestos nada republicanos é um sinal de que ele tomou conta da cabeça dela.

Ou apenas reflete a extrema frustração com um momento complicado para a oposição.
Quando teve seu ataque de nervos, Nancy Pelosi sabia que Trump singrava sem problemas para a absolvição no julgamento do impeachment no Senado.
Todo o esforço feito por ela e a oposição democrata, que tem a maioria na Câmara, sequer trincou a muralha republicana na Câmara.
A única deserção foi de Mitt Romney. É importante porque ele foi candidato a presidente, tem uma aceitação entre os republicanos mais tradicionais e fez uma boa argumentação contra Trump.

Mas também deixa a imagem de dor de cotovelo – Romney foi cotado e até entrevistado para ser secretário de Estado, mas não passou no teste de Trump.
O julgamento do impeachment pelos menos prejudicou a imagem de Trump, com horas e mais horas de deputados democratas acusando-o dos piores crimes por ter tentado forçar a Ucrânia a investigar Joe Biden e seu filho Hunter, agraciado com um empregão por um milionário ucraniano quando o papai era vice-presidente?
Não há confirmação ainda pelas pesquisas – até o contrário, algumas indicam um pequeno aumento na aprovação ao presidente. Não só Trump fez um discurso ao Congresso cheio de atitude e autoelogios, como sempre, mas antes, ao receber os principais apresentadores de noticiários de televisão para um almoço em off – quase todos inimigos juramentados, claro – estava exuberante.
“Não estava com raiva, mostrou-se amigável, sociável e relaxado. Tem certeza que será reeleito”, relatou um participante. Os democratas, em compensação, estão em estado de choque. O resultado da primeira eleição primária da campanha presidencial, em Iowa, trouxe uma tremenda confusão.

Joe Biden, o candidato mais consolidado, descobriu que tudo o que é sólido se desmancha rapidamente no ar em política.

Quarto lugar para um favorito é de desestruturar qualquer um. Ainda mais considerando-se que ele perdeu, pela ordem, para um candidato gay, um veterano socialista mais velho ainda do que ele e uma mulher – é claro que tudo isso é dito sem juízo de
valor.
Mas quem não pensou nisso ao ver a cara de Joe Biden, tentando fugir que está tudo bem? E a alegria contagiante e juvenil de Pete Buttigieg, o prefeito do interior que começou de menos do que nada e chegou em primeiro lugar na primária que dá a largada?
Não ajuda nada ver Nancy Pelosi rasgando discursos na cara no presidente. Os americanos, em geral, não gostam dessas coisas. Mesmo os que são contra Trump – e estes ainda são a maioria, segundo as pesquisas – percebem o ar de descontrole e desespero.

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