quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Banco Central reconhece incerteza maior no exterior, mas indica fim do ciclo da Selic

Em um cenário de preocupações em todo o mundo com o crescimento econômico, após o surto de coronavírus na China, o Banco Central (BC) voltou a cortar juros na noite de hoje. A instituição reduziu a Selic (a taxa básica da economia) em 0,25 ponto porcentual, de 4,50% para 4,25% ao ano. Em sua decisão, no entanto, o BC deixou claro que, apesar do aumento da incerteza no exterior, não planeja reduzir novamente os juros em seu próximo encontro de política monetária, marcado para meados de março.

Banco Central
O Copom, do Banco Central, se reúne a cada 45 dias para definir a Selic. 
Foto: André Dusek/Estadão
O corte desta quarta, 5, e foi o quinto consecutivo e fez a Selic atingir um novo piso da série histórica. A decisão, tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) - formado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pelos oito diretores da autarquia -, era esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 58 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 47 esperavam por um corte de 0,25 ponto. Onze casas aguardavam manutenção da taxa básica em 4,50% ao ano.
Ao justificar sua decisão, o BC não citou explicitamente a epidemia de coronavírus, que tem levado as instituições financeiras a revisar suas projeções de crescimento para a China e mesmo para emergentes como o Brasil. Porém, a autarquia reconheceu que houve um “recente aumento de incerteza” no cenário externo.
Ao mesmo tempo, o BC ponderou que o fato de os juros estarem em níveis baixos nas economias centrais ainda produz um “ambiente relativamente favorável para economias emergentes”. Na prática, o Copom não vê, até o momento, o coronavírus como um grande perigo para o crescimento do País. Para o BC, os dados de atividade econômica “indicam continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira”.
O BC também voltou a indicar que o cenário para a inflação é favorável. As projeções da autarquia para o IPCA - o índice oficial de preços - são de 3,5% para 2020 e de 3,7% para 2021. Estes porcentuais foram calculados com base em um câmbio constante a R$ 4,25 e na Selic esperada pelo mercado financeiro para os próximos meses. As duas projeções estão dentro das metas de inflação perseguidas pelo BC neste e no próximo ano.
Apesar de a inflação estar sob controle, o BC sinalizou que, em março, não reduzirá a Selic. Isso porque a autarquia já vem promovendo cortes desde meados do ano passado, com efeitos que serão sentidos ao longo de 2020. “Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”, disse o BC, em sua linguagem técnica.
“Chega um momento em que não dá para ficar olhando os dados correntes, de curtíssimo prazo. É preciso esperar a economia reagir”, disse o superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander, Maurício Oreng, sobre a intenção do BC de não mexer na Selic em março. “É possível que, numa surpresa baixista (da economia) muito forte, o BC volte a cortar juros. Mas não é nosso cenário”, acrescentou.

Com a Selic em 4,25% ao ano - o menor patamar já visto -, o Brasil já tem uma taxa real de juros (descontada a inflação) inferior a 1%. Levantamento do site MoneYou e da Infinity Asset mostra que o juro real está hoje em 0,91% no Brasil, o que o coloca na nona posição entre os países com as maiores taxas do mundo. No topo da lista estão México (3,20%), Malásia (2,30%) e Índia (2,28%). /Colaborou André Ítalo Rocha

Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues, O Estado de S.Paulo