Marlene Bergamo/Folhapress | |
O advogado José Yunes em seu escritório em São Paulo |
BELA MEGALE
THAIS ARBEX
Folha de São Paulo
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Cotado para ocupar o cargo de assessor especial da Presidência em um eventual governo de Michel Temer, o advogado José Yunes tem na sala do seu escritório, em São Paulo, o símbolo da amizade de mais de 40 anos com o vice: uma foto sua e de Temer tirada em 2014 em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, durante uma missão internacional em que acompanhou o peemedebista.
Questionado sobre em quantas comitivas foi com Temer para fora do país, ele mantém a discrição: "Acho que foram só umas duas".
Melhor amigo e homem de confiança do vice, o advogado tem seguido à risca o conselho de falar pouco e não se pronunciar como se o governo do PMDB já fosse realidade.
O lugar do advogado no Palácio do Planalto, no entanto, é garantido se Temer assumir, segundo interlocutores peemedebistas e amigos do vice, pela liberdade que Yunes tem de criticá-lo e falar o que pensa.
"O poder é perigoso, é importante se cercar de pessoas para não se perder da realidade", disse o consultor político Guadêncio Torquato, também amigo de Temer.
"Sou uma espécie de psicoterapeuta político", resumiu Yunes, que foi testemunha e muitas vezes participante direto nas ações de Temer ao longo dos meses que antecederam a votação do impeachment na Câmara.
Os dois costumam almoçar segundas e sextas. O escritório do advogado passou a funcionar como QG de reuniões para montagem do governo.
A primeira sinalização pública dada por Temer sobre a possibilidade de desembarcar do governo petista aconteceu em setembro passado em evento organizado pela empresária Rosangela Lyra que teve a presença do vice intermediada pelo advogado. O peemedebista disse que seria difícil Dilma Rousseff chegar até o fim do mandato se continuasse tão impopular.
Pessoas próximas a Temer relataram que Yunes foi, juntamente com o vice, um dos autores da carta com queixas enviada em dezembro pelo vice à titular. O advogado diz que seu papel no episódio foi só de "bom ouvinte".
A presença do advogado nas articulações políticas do amigo sempre foi constante.
Em 2014, durante a eleição estadual para o governo de São Paulo, ele realizou um jantar em sua casa com a presença de Temer e dos candidatos a governador Paulo Skaf (PMDB) e Alexandre Padilha (PT) em busca de um pacto de não agressão –que acabaria rompido depois.
Yunes também foi o nome de confiança de Temer no conselho político da campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012.
Deputado estadual por duas vezes com Michel Temer, a primeira pelo MDB, nos anos 70, e a segunda pelo PMDB, na década de 80, partido ao qual é filiado até hoje, o advogado sempre teve influência direta na trajetória política do amigo.
Em 1984, Yunes aproveitou sua proximidade com o então governador paulista André Franco Montoro, para ajudar a viabilizar Temer como secretário de Segurança Pública.
Crítico a Paulo Maluf (PP-SP), Yunes atribuiu o lugar de deputado estadual mais votado em 1982 ao livro de sua autoria "Uma má lufada que abalou São Paulo".
Maluf entrou na Justiça para impedir que o livro saísse e, na noite do lançamento, um delegado foi ao local ordenando que todos fossem colocados para fora.
Com frequência, Yunes ainda é confundido com Jorge Yunes, aliado histórico de Maluf, devido ao sobrenome em comum. A confusão costuma desagradar o advogado.
Após o término de seu segundo mandato como deputado, porém, Yunes decidiu não concorrer mais a cargos eletivos, mas deixa claro que nem por isso abandonou a política. "Até hoje procuro dar minha contribuição", diz.
O advogado também teve papel em outro fato marcante da vida de Temer, a publicação de seu livro de poesias "Anônima Intimidade".
O advogado foi uma das primeiras pessoas para quem Temer mostrou os poemas que tinha escrito em suas viagens de avião. "Li em um fim de semana e falei que era maravilhoso, que ele tinha que fazer um livro", contou Yunes. Mesmo assim, o vice-presidente se mostrou resistente, mas foi convencido quando Yunes argumentou: "Você tem que mostrar seu lado humano, sua alma".