Ari Kaye - 29.out.2011/Agência Senado | |
Adhemar Palocci em estande de Belo Monte em evento no Rio |
RUBENS VALENTE - Folha de São Paulo
Recados foram deixados, mas Adhemar não retornou até a conclusão desta edição.
Embora oficialmente licenciado de suas funções na Eletronorte enquanto durarem as investigações internas sobre suspeitas de fraudes levantadas pela Operação Lava Jato, Adhemar Palocci continua trabalhando na sede da estatal de energia, em Brasília.
Ele também procurou pelo menos um órgão público, a Funai (Fundação Nacional do Índio), para falar em nome da Eletronorte e tratar de assuntos de interesse da empresa.
Irmão do ex-ministro Antonio Palocci, Adhemar, segundo a empresa, se licenciou do cargo de diretor de Planejamento e Engenharia em julho. O afastamento se deu no mesmo dia em que o Conselho de Administração da Eletrobras, que controla a estatal, criou uma "comissão independente" para supervisionar os trabalhos do escritório Hogan Lovells, contratado para "procedimentos ordinários de investigação".
Valter Cardel , diretor de Geração da Eletrobras e próximo da presidente Dilma Roussef, também deixou o cargo.
Adhemar foi citado na Lava Jato no contexto das apurações sobre Belo Monte (PA). Ele e Cardeal tiveram papel relevante nas negociações com o consórcio que ganhou a concessão da usina e as firmas contratadas para erguê-la.
Em março, o executivo da Camargo Corrêa Dalton Avancini, em delação, disse que Adhemar "teria algum envolvimento com o recebimento das propinas". Ele indicou que um outro executivo da Camargo, Luiz Carlos Martins, poderia fornecer detalhes. O sistema da Justiça não informa se Martins já foi ouvido.
Um mês após a divulgação da delação de Avancini, a Eletronorte anunciou a licença de Adhemar. Funcionário de carreira da Eletrobras, deveria voltar à estatal de origem.
Mas a Folha confirmou quatro vezes, com duas funcionárias da Eletronorte que trabalham na mesma sala de Adhemar, que ele aparece quase todos os dias para receber pessoas e dar telefonemas.
Trata-se da sala 801 do bloco B da sede da Eletronorte, no Shopping ID, Asa Norte de Brasília. Em uma ocasião, a funcionária afirmou que "ele saiu do gabinete, mas está aqui nesta sala [801]".
Recados foram deixados, mas Adhemar não retornou até a conclusão desta edição.
A Folha apurou que funcionários da Eletronorte são chamados à sala para discutir assuntos internos da estatal.
OUTRO LADO
ndagada pela reportagem sobre a presença de Adhemar Palocci na sede da Eletronorte, a estatal informou apenas que ele "está afastado do seu cargo, conforme comunicado ao mercado" de julho.
Questionada sobre o mesmo assunto, a Eletrobras não se manifestou até a conclusão desta edição.
Em mensagem anterior, havia dito que Adhemar e Valter Cardeal "estão afastados (...) até o término da investigação realizada pela empresa Hogan Lovells".
Procurada pela Folha, a Funai confirmou que Adhemar esteve no órgão para uma reunião, solicitada por ele, com o presidente da fundação, João Pedro, em 27 de agosto –quase um mês após a Eletrobras ter divulgado que ele se licenciara.
Segundo a assessoria da Funai, o tema da reunião foi um encontro que ocorreria em 1º de outubro na terra indígena Waimiri-Atroari.
A Eletronorte pretende construir uma linha de energia elétrica atravessando a região. Para tentar executar a obra, montou um consórcio com a empreiteira Alupar.