O dólar bateu nesta quarta-feira (23) a máxima de R$ 4,15, em seu maior valor histórico, levando o Banco Central a anunciar duas intervenções no câmbio para tentar conter a escalada da moeda. Dúvidas sobre o futuro do governo Dilma, dificuldades no controle das contas públicas e crise global, no entanto, mantêm a cotação em alta pelo quinto dia.
Às 13h15 (de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha valorização de 1,88%, para R$ 4,130 na venda. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançava 1,89%, a R$ 4,131. Na máxima do dia, por enquanto, a moeda americana bateu R$ 4,15.
Ambas as cotações estão no maior valor desde a criação do Plano Real, em 1994. É preciso considerar, no entanto, que o cenário econômico entre aquele ano e 2015 mudou drasticamente. O valor de R$ 4 naquela época, por exemplo, hoje valeria cerca de R$ 12,75, após correção inflacionária.
O Banco Central realizou entre 12h45 e 12h55 um leilão de até 20 mil contratos de swap cambial, operação que equivale a uma venda futura de dólares. A autoridade também fará, às 15h, dois leilões de empréstimo de moeda americana com compromisso de recompra no valor total de até US$ 2 bilhões.
Dados mostrando desaceração da indústria chinesa em setembro ajudam o dólar a ganhar força também sobre outras moedas globais nesta sessão. Das 24 principais divisas emergentes do mundo, 15 se desvalorizavam, lideradas pelo real.
Infográfico: Cotação histórica do dólar
Após pressão do governo e negociação de ministérios com o PMDB, o Congresso Nacional manteve na madrugada desta quarta parte dos vetos da presidente Dilma Rousseff a projetos da chamada pauta-bomba, que ao todo poderiam resultar em gastos extras de R$ 128 bilhões até 2019.
Segundo analistas, a notícia foi recebida positivamente pelo mercado, por isso o dólar chegou a ter queda nos primeiros minutos de negociações nesta manhã, mas o quadro fiscal brasileiro ainda gera preocupações.
Isso porque, por falta de quórum, o Congresso não conseguiu analisar um dos pontos mais polêmicos da pauta: o veto ao projeto que reajusta o salário dos servidores do Judiciário em 59,5%, em média, nos próximos quatro anos.
RATING E JUROS
Incertezas sobre o quadro fiscal brasileiro têm ampliado o risco de rebaixamento da nota de crédito do país. O governo tenta evitar um novo rebaixamento do rating brasileiro, a exemplo do que ocorreu no início do mês, quando a agência Standard & Poor's cortou o rating do país, retirando seu selo de bom pagador.
O receio é que o Brasil também perca o chamado grau de investimento da Fitch ou da Moody's. Com duas classificações de grau especulativo, grandes fundos estrangeiros têm que remover suas aplicações do país pelo risco maior de calote.
No caso da Fitch, a nota brasileira ("BBB") está dois degraus acima do limite entre grau de investimento e especulativo, por isso mesmo que a agência resolva cortar a nota do país em um nível, o Brasil manteria o selo de bom pagador.
A possibilidade de rebaixamento tem feito com que os investidores apostem em juros mais elevados nos próximos anos, pela expectativa de que o Brasil terá de pagar taxas maiores para atrair investidores estrangeiros dispostos a bancar o risco de investir num país pouco confiável na avaliação das agências de risco.
As taxas de juros futuros negociadas na BM&FBovespa voltaram a subir nesta sessão. O contrato de DI para janeiro de 2021 apontava taxa de 16,410% às 13h15, ante 16,140% na sessão anterior. O DI para janeiro de 2016 subia para 14,680%, ante 14,580%.
AÇÕES
No mercado de ações, o dia também é negativo. O principal índice da Bolsa brasileira tinha baixa de 1,25%, para R$ 45.684 pontos. O volume financeiro girava em torno de R$ 2,7 bilhões.
As ações preferenciais da Petrobras (mais negociadas e sem direito a voto), que chegaram a subir mais cedo, inverteram a tendência para queda –a quinta consecutiva, para seu menor valor desde agosto de 2003. Às 13h15, cediam 1,72%, para R$ 6,85 cada uma. Já as ordinárias, com direito a voto, perdiam 1,67%, a R$ 8,21.
No mesmo sentido, os papéis da mineradora Vale recuavam, na esteira da cautela com a desaceleração da economia da China, que é o principal destino das exportações da companhia. As ações preferenciais perdiam 1,95%, para R$ 15,05 cada uma, enquanto as ordinárias mostravam baixa de 0,87%, a R$ 19,29.
No setor bancário, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, tinham desvalorizações o Itaú (-2,18%), o Banco do Brasil (-2,27%) e a ação preferencial do Bradesco (-2,64%).