quarta-feira, 30 de setembro de 2015

"Contra impeachment, Dilma capitula", por Igor Gielow

Folha de São Paulo



queda de Aloizio Mercadante da Casa Civil é a capitulação final da presidente reeleita em 2014. Dilma Rousseff fez, enfim, o movimento mais esperado e difícil em sua luta para começar um novo governo com ela ainda na cadeira.

Na balança, a ideia de que apenas a entrega de mais poder ao PMDB e aliados laterais, aliada à cabeça simbólica de Mercadante a ser despachada de volta para a Educação, será capaz de barrar o ímpeto do Congresso de impedir a impopular presidente.

A degola do ministro, figura odiada por nove e meio entre dez políticos de Brasília, também agrada ao principal interessado nos rumos do governo que morreu antes de começar: o chefão petista Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-presidente, ainda que já tenha tido Mercadante em sua chapa uma vez, nunca gostou do ministro. Se exprime isso por convicção ou pragmatismo, é outra questão, mas o fato é que Lula passou o ano insistindo na tecla de que o ministro era o principal problema da Esplanada.

Lula, dono do maior faro político do país, estava certo. Todas as ideias ruinosas que inviabilizaram o governo Dilma-2 na política passaram pelo ministro, a começar pela tentativa de implosão do poder peemedebista ainda durante as comemorações da reeleição.

As agruras da presidente no setor, que apenas tornaram impossível executar em tempo o ajuste que talvez pudesse ter aliviado o desastre econômico em curso, começaram quando o Planalto resolveu eleger aliados como o PSD de Gilberto Kassab para esvaziar o PMDB. O paroxismo do processo ocorreu na disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, quando o PT foi humilhado por Eduardo Cunha.

Não deixa de ser inacreditável que o mesmo movimento, o de agora vitaminar o PL de Kassab, tenha voltado a ocorrer no meio das negociações para tentar salvar o mandato de Dilma.

LISTA DE PROBLEMAS

A lista de problemas atribuídos à inabilidade de Mercadante só fez crescer, passando pelas respostas aos protestos contra Dilma e a ingerência na área conflagrada área econômica do governo ao lado do também "desenvolvimentista" Nelson Barbosa (Planejamento), em oposição ao "fiscalista" Joaquim Levy (Fazenda).

O erro fatal foi a alienação do vice-presidente, Michel Temer (PMDB). Herdeiro constitucional no caso de um impeachment, Temer foi primeiro elevado à condição de negociador com o Congresso, só para ver seu poder ser esvaziado pelos "nãos" da Casa Civil. Deu no que deu: o vice hoje é uma figura alienígena no centro do governo, e a reforma ministerial como está sendo desenhada poderá até agradá-lo, mas é altamente improvável que o traga para o lado de Dilma novamente.

Isso é péssima notícia quando todo o eventual curso de um processo de impedimento está nas mãos do PMDB de Temer, Renan Calheiros (Senado) e Cunha. O presidente da Câmara é o pai do rito, e mesmo tendo sido alvejado de forma decisiva pela Lava Jato, mantém gordura política a ponto de ver nomes ligados a si como ministeriáveis. Tudo contra o impeachment.

Não será sentida a ausência de Renato Janine Ribeiro, ministro da Educação que saiu da academia pró-PT e cheia de autoelogios (era "professor de ética", afinal, piada pronta no governo federal) para uma das pastas mais importantes do país. Não mostrou a que veio, com exceção de uma prolífica produção de posts de Facebook, inclusive sobre seu estado civil. Na prática, o pessoal de Mercadante ainda mandava no ministério, e isso, somado à inapetência gerencial de Janine, fizeram o setor paralisar neste ano.

O resto da reforma vai sendo alinhavado com seu fim último, o controle da ameaça congressual contra o mandato de Dilma. Pode dar certo momentaneamente, mas é bom frisar que o Tribunal de Contas da União ainda nem entregou seu parecer que irá rejeitar as contas da presidente e apontar violações de responsabilidade fiscal. A situação permanece delicada para o Planalto.