quarta-feira, 30 de setembro de 2015

"Dilma 1, o zumbi", por Vinicius Torres Freire

Folha de São Paulo


Apenas milagres vão impedir que as contas do governo terminem no vermelho outra vez. Fora do governo, os interessados já sabiam disso. Pelo menos desde agosto, a previsão é de deficit primário (despesa maior que receita, mesmo desconsiderados gastos com juros).

É o que se depreende do balanço das contas federais, divulgado ontem. Lá se confirma que o rombo não se deve apenas a queda de receita e despesas "estruturais" crescentes (previdenciárias em particular).

Esse outro motivo do rombo deriva do fato de: 1) Dilma Rousseff ter arruinado empresas estatais; 2) Dilma 1 ter maquiado gastos, escondendo despesas que reaparecem agora, muitas delas devidas ao dinheiro gasto para baratear empréstimos a grandes empresas e oligopólios, via BNDES.

Pergunta-se agora se o deficit vai piorar o bastante para degradar ainda mais as expectativas econômicas e a esperança de conter o rombo previsto para 2016 (mesmo se aprovada a CPMF). Isto é, suficiente para provocar nova rodada de tumulto financeiro.

Até agosto, o deficit federal foi de 0,62% do PIB (acumulados os resultados dos últimos 12 meses). A meta oficial para 2015 é de 0,1% do PIB. Mesmo para cumprir a minimeta, serão necessários resultados extraordinários até dezembro.

A receita não pode cair. Mas, nos 12 meses contados até agosto, caiu 6,85%, já descontada a inflação; de janeiro a agosto, caiu 4,76% ante mesmo período do ano anterior.

A despesa tem de cair mais de 2%, mas cresceu 0,7% em 12 meses.
Está difícil.

Muita gente, assim como o governo, ainda conta com receitas extraordinárias previstas, vendas de patrimônio e concessões, que estão por ora penduradas no bico do corvo. Isto é, dada a turumbamba no mercado, será difícil vender parte da Caixa, hidrelétricas e fazer algum outro leilão de concessão.

Deve ser por ainda contar com essa receita extraordinária, que economistas de alguns grandes bancos estimavam ainda na semana passada que o governo federal teria déficit de 0,1% ou 0,2% do PIB, por aí. Como se escreveu mais acima, a conta está por ora em 0,62% do PIB.

Seria um chutão dizer grande coisa sobre 2016 além do fato de que a principal previsão de receita nova para o ano que vem, a CPMF, está com o pé na cova. 

Confirmado também um deficit grande em 2015, logo teremos ainda mais problemas. Quer dizer, descrédito ainda maior do governo, altas de taxas de juros e dólar, seguidos de rebaixamento formal do crédito.

Quanto ao rombo deste ano, considere-se uma das contas do despautério de Dilma 1. As despesas com subsídios foram de R$ 6,8 bilhões de janeiro a agosto de 2014. Neste mesmo período de 2015, de R$ 20 bilhões. Mesmo na pindaíba, o governo deu mais subsídio?

Não. O governo agora desembolsa dinheiro para "restos a pagar", papagaios indevidos e maquiagens de 2014, cerca de R$ 13,4 bilhões, até agosto. Legal ou ilegal, é uma fraude da opinião pública.

Para terminar, a presidente que tanto amava estatais as arruinou a ponto de o governo ficar sem um naco pedaçudo de seus dividendos. Em relação a 2014, esta receita caiu R$ 12 bilhões, até agosto.

O vexame é infinito. Para dizê-lo de modo gentil.