sexta-feira, 26 de maio de 2017

Saída de Maria Silvia é um desastre para Temer

Com Blog do Josias - UOL


Envolto há dez dias na mais grave crise do seu governo, Michel Temer rumava para o final de semana aliviado. Ele soou otimista em vídeo jogado nas redes sociais na noite de quinta-feira. Discutiu com auxiliares na manhã desta sexta os “anúncios importantes” que fará nos próximos dias. Em privado, dizia ter “recuperado o fôlego”. De repente, caiu-lhe sobre a cabeça carta de demissão da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos —um desastre que devolveu Temer à realidade.
A logomarca do BNDES apareceu num dos trechos da gravação do diálogo do delator Joesley Batista com Temer. Nele, o dono da JBS expôs o que o presidente definiria depois como “reclamações contra o ministro da Fazenda, contra o Cade, contra o BNDES.” As queixas do empresário são uma “prova cabal de que meu governo não estava aberto a ele”, disse Temer há uma semana, evocando a atuação de Maria Silvia e de Pedro Parente, presidente da Petrobras, como evidências da seriedade de sua gestão.
O problema é que, se o trecho do áudio mencionado na autodefesa de Temer provou alguma coisa foi que um empresário corrupto, depois de se defrontar com a resistência de servidores como a presidente do BNDES, decidira cobrar do presidente da República a solidariedade de que se julgava credor. E foi correspondido.
Na gravação que fundamentou a abertura de inquérito contra Temer no STF, Joesley pediu ao presidente um “alinhamento” de posições que lhe permitisse ser mais direto nas cobranças para que o ministro Henrique Meirelles, seu interlocutor, fosse sensível aos seus pedidos. E Temer: “Pode fazer isso.”
Em depoimento à Procuradoria da República, Joesley declarou que Temer interveio pessoalmente a favor de sua empresa junto ao BNDES. “Eu tive informações que ele intercedeu no BNDES tentando me ajudar”, disse o delator aos procuradores. “Depois ele me confirmou e disse que esteve no Rio falando com a presidente” do banco. O esforço resultou “infrutífero”.
Maria Silvia tornara-se uma pedra no sapato dos chamados “campeões nacionais”. Ela irritara gente como o delator Joesley Batista, que havia se acostumado a aproveitar as facilidades da era petista para azeitar com dinheiro fácil e barato do BNDES a expansão internacional do seu conglomerado. Súbito, o cofre se fechou. Sob nova administração, o bancão oficial passou a ser mais criterioso na análise de suas operações de crédito.
Sobreveio a pressão para que o BNDES parasse de torcer o nariz dos grandes “empreendedores”. Os ataques a Maria Silvia não vinham apenas dos escritórios assentados nas avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini. Um de seus críticos vira a maçaneta do gabinete presidencial na hora que quer e desfruta de acesso irrestrito aos ouvidos de Temer: o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).
Equilibrando-se em meio ao entrechoque de forças antagônigas, Temer sempre pareceu mais dúbio do que Maria Silvia gostaria. Ela entregou os pontos. “Razões pessoais”, alegou. Depois de prevalecer, Moreira Franco abençoou a nomeação do novo mandachuva do BNDES: Paulo Rabello de Castro. Na semana em que Temer imaginava ter recuperado o fôlego, a água continua na altura do nariz.