terça-feira, 16 de maio de 2017

"O resgate da Petrobras", editorial da Folha de São Paulo

Embora os escândalos de propinas e superfaturamento prevaleçam em notoriedade, foi a gestão movida a interesses políticos e preconceitos ideológicos que deu a principal contribuição para a derrocada da maior empresa do país.

Preços artificialmente baixos da gasolina, empreguismo, políticas nacionalistas e investimentos megalômanos, entre outros fatores, conduziram a Petrobras à crise que culminou no assombroso prejuízo de R$ 36,9 bilhões contabilizado no quarto trimestre de 2015.

Mais de um ano depois, vislumbra-se agora uma recuperação mais sólida da gigante estatal, que não se traduz somente no lucro de R$ 4,4 bilhões nos três primeiros meses deste ano.

O balanço da companhia mostra substantiva redução de custos, tanto na parte administrativa quanto na extração de petróleo.

A produção avançou 7%, graças à maturação do conhecimento técnico na área do pré-sal e do foco em investimentos nos campos mais promissores.

Ainda astronômica, a dívida de cerca de R$ 300 bilhões é hoje mais administrável, levando-se em conta o aumento da capacidade de geração de recursos da companhia. Cumpridas as metas fixadas para 2018, esta terá condições de recuperar o selo de investimento seguro perdido há dois anos.

Para tanto, a Petrobras promove um programa ambicioso de venda de ativos considerados não estratégicos, que acumulou, até agora, US$ 13,6 bilhões (ou R$ 42,2 bilhões, pela cotação atual).

A empresa tem conseguido enfrentar os impactos da recessão, que provocou queda no consumo interno de derivados —a contrapartida foi expressivo aumento, de 72%, das vendas externas.

Decerto há muito ainda por fazer, sobretudo para evitar que a orientação populista ressurja em tempos de bonança. O contraste entre as notícias de agora e a experiência desastrosa dos anos anteriores, porém, não deve deixar dúvida sobre o caminho para o futuro.