domingo, 14 de maio de 2017

Casa inteligente já é uma realidade no Brasil



No show room da Schneider Electric em Paris, em um toque no celular iluminações diferentes para um mesmo cômodo transformam o ambiente
No show room da Schneider Electric em Paris, em um toque no celular iluminações diferentes para um mesmo cômodo transformam o ambiente Foto: Daiane Costa
O Globo


No quarto, a cama aquece seus pés nas noites frias. Na hora do banho, nada de perder tempo ajustando a água: sua temperatura predileta está memorizada no chuveiro. E perder as chaves nunca mais, já que a fechadura tem um leitor biométrico, bastando encostar o dedo indicador. Com o avanço do desenvolvimento de produtos inteligentes para residências, viver em uma casa no estilo do desenho animado "Os Jetsons" é algo cada vez mais próximo da realidade - pelo menos para quem tem dinheiro de sobra para investir. Segundo a Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial (Aureside), um projeto de automatização residencial básico custa, hoje, a partir de R$ 6 mil.

A Schneider Electric, empresa global especialista em gestão de energia e automação, ressalta que as possibilidades são infinitas. Já há 20 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo e, daqui a três anos, serão 50 bilhões. São sistemas que permitem controlar, por celular, tablet ou voz, desde iluminação, climatização e segurança até TV e som da casa.

Assim, seria possível programar remotamente, pelo smartphone, o aparelho de ar-condicionado, para que ligue e desligue em determinados horários; mexer na iluminação, para tornar o ambiente mais adequado a uma festa, por exemplo; e as cortinas do quarto, para abrirem no horário escolhido, dando uma ajudinha para sair da cama.

Na maior feira de produtos tecnológicos do mundo, a CES, que ocorre anualmente em Las Vegas, foram apresentados este ano itens ainda mais sofisticados, como geladeiras com tela de toque que avisam quando o prazo de validade de um alimento está prestes a vencer, lixeiras que abrem e fecham com comando de voz e robôs que dobram as roupas.

- É uma tecnologia que não é acessível para toda a população de imediato. Mas a casa conectada está evoluindo. Não preciso conectar minha casa toda de uma vez. Posso ir progressivamente, de acordo com meus interesses, minhas necessidades e poder aquisitivo - explica Tania Consentino, presidente da Schneider para a América do Sul.

Segundo Tania, além do poder aquisitivo, pesam especificidades locais do clima:

- Existem países na Europa onde não se constrói uma casa sem um mínimo de inteligência, pois é questão de sobrevivência. Por exemplo: em países onde a temperatura média anual é muito baixa, há a necessidade de um sistema de calefação na residência e não pode faltar água quente circulando nos encanamentos, para a água não congelar.

De acordo com Penyamin Bedel, um dos diretores da Schneider, as soluções residenciais são 10% do negócio da empresa. Os dois últimos lançamentos nessa área - uma lâmpada que pode ter cor e intensidade controladas pelo celular e uma luminária que vem com um aromatizador de ambientes - saem por EUR 58 e EUR 67, respectivamente, algo em torno de R$ 200 cada, conta Bedel. Esses dois produtos devem chegar ao Brasil dentro de um ano e meio.

Os números da Aureside comprovam a diferença entre os mercados. Apenas 0,5% das casas brasileiras, cerca de 300 mil, têm algum tipo de automação, contra média de 18% na Europa e nos Estados Unidos. O engenheiro elétrico José Roberto Muratori, da Aureside, afirma que o mercado está em expansão no país e que já deu um salto com a popularização dos smartphones e tablets, a partir de 2010, pois os dois aparelhos baratearam o controle da inteligência instalada nas residências. A associação vê potencial para atingir 1,9 milhões de casas no país com algum nível de automatização:

- Já são mais de 150 fabricantes nacionais e multinacionais de produtos, dos mais simples aos sofisticados. As pessoas mais jovens, que têm mais familiaridade com novas tecnologias, estão adquirindo imóvel mais cedo.

Estudo da entidade com 200 integradores de automação residencial mostra que, em 2016, mesmo com a crise econômica, mais da metade (53%) manteve o mesmo nível de negócios frente ao ano anterior. Para 23%, o número de projetos cresceu, e para 25%, caiu. Os três sistemas mais requisitados pelos brasileiros são controle de iluminação, de home theater e som ambiente, e câmeras de segurança.

O maior potencial de crescimento, diz a presidente da Schneider para a América do Sul, vem dos jovens:

- Eles são bem menos apegados a bens materiais. Hoje mora aqui, amanhã ali. Então, pode configurar a sua casa como configura seu iPhone. O status não é o bem em si, é ter a casa conectada.

Segundo Muratori, um projeto no Brasil sai a partir de R$ 6 mil - em um imóvel de 70 metros quadrados, controle por tablet ou celular de quatro aparelhos de áudio e vídeo, dois condicionadores de ar e sistema de iluminação. Há ainda sistemas de irrigação de jardim que funcionam de acordo com as condições do tempo (se chove ou não, nível da umidade do solo), luzes que acendem e se apagam de acordo com a claridade vinda de fora, cortinas que se fecham quando os raios do sol estão batendo diretamente sobre os móveis para evitar que rachem ou desbotem e, se a família tiver um carro elétrico, pode mantê-lo na garagem ligado ao carregador para aproveitar essa energia para abastecer a casa quando o serviço fornecido pela concessionária de energia elétrica falhar.

Alguns produtos, como as duas luminárias lançadas no fim do ano passado pela Schneider, podem ser instaladas pelo dono da casa. Mas, para a integração de sistemas, o ideal, sugere a Aureside, é contratar um profissional que tem formação em engenharia, em tecnologia da informação e redes.

O Brasil é o maior mercado na América do Sul para a Schneider Electric, respondendo por cerca de 60% dos negócios da companhia na região. A empresa não abre números por país, mas estima cerca de EUR 1 bilhão em termos de receitas em 2016 na América do Sul. No mundo, foram EUR 25 bilhões. Em entrevista concedida na sede da empresa, o CFO da Schneider Electric, Emmanuel Babeau, disse confiar na manutenção do crescimento dos negócios na região, onde estão há 70 anos. E o foco de atuação está na oferta de novos produtos inteligentes.

- É produzir mais com menos, de maneira mais sustentável em um ambiente cada vez mais complexo. É um aumento da sofisticação de como se consume energia.