domingo, 28 de fevereiro de 2016

"O tapete vermelho", por Carlos Heitor Cony

Folha de São Paulo


Entre as coisas que não entendo —quase todas— estão os critérios ou a falta de critérios das premiações em geral, desde a do prêmio Nobel ao Oscar que anualmente a Academia de Hollywood distribui aos que se destacaram nas várias categorias que compõem um filme: roteiro, ator, atriz, diretor, coadjuvante etc.

Em linhas gerais, os premiados ganham status e, de certa forma, criam uma expectativa de qualidade ou emoção, que acaba valorizando o filme e os que nele trabalharam. E, evidente, não só o Oscar, mas o cinema norte-americano continua sendo o mais influente e copiado em todo o mundo.

Periodicamente, surge um movimento como o expressionismo alemão ou o neo-realismo italiano, ambos penetraram no próprio cinema de Hollywood, mas o arroz e feijão da indústria cinematográfica continua a ser a norte-americana e pode ganhar qualquer prêmio pelo conjunto de obra.

Apesar de sua influência internacional, numa lista dos cem melhores filmes de todos os tempos, os festivais mais importantes, como o de Cannes, Veneza e Berlim costumam premiar produções de outros países, inclusive alguns exóticos.

Como em todas as avaliações, inclusive na ciência, na literatura e até na paz, as injustiças e os equívocos, sobretudo a influência política ou ideológica, nem sempre distinguem os melhores ou os mais importantes.

Só no fim da vida, arrastando os pés e sem dar muita bola à cerimônia, Chaplin só ganhou o prêmio referente ao conjunto de obra, ao som de uma de suas músicas que até hoje é cantada em boates, festivais, casamentos e até nas igrejas.

São raras as exceções. Mais raro ainda é o consenso universal sobre determinado prêmio. Aos poucos, o tapete vermelho, que se torna a passarela da fama, está superando o próprio cinema.