Existe a Odebrecht e existe a “Odebrecht”. Existe a maior empreiteira do país e existe tudo o que está implícito quanto se diz “Odebrecht”. É uma entidade além dos canteiros de obras. É o poder sem trono, que usa o Brasil como laboratório dos seus excessos.
A “Odebrecht” está furiosa com a divulgação das mensagens que a Polícia Federal fisgou no celular do seu presidente, Marcelo Odecrecht. Acha que foi um desserviço. Algo que apenas confunde a opinião pública com interpretações distorcidas e descontextualizadas.
Os textos revelam a inquietação do mandachuva da Odebrecht com a Lava Jato. Neles, encontram-se preciosidades como a referência a um Plano B associado às iniciais da operação policial: LJ. Está escrito “trabalhar para parar/anular (dissidentes PF…)”.
Sérgio Moro, juiz da Lava Jato, deu prazo para que a empreiteira se explique. Achou “perturbadora” a insinuação de que silvérios da PF seriam usados numa trama para melar a apuração do escândalo que expõe as vísceras da promiscuidade que marca as relações do capital privado com o poder estatal.
O doutor Moro exagera. Apinhadas de referências a políticos e de orientações heterodoxas —“vazar doações de campanha”, “asseguraremos a família” e “vamos segurar até o fim”— as mensagens de Marcelo Odebrecht não são perturbadoras nem tranquilizadoras. São apenas dados de um fenômeno.
A Odebrecht conseguiu, por meio do seu presidente preso, a proeza de se dissociar das ações da “Odebrecht”, de se manter incólume a si mesma. O que as mensagens do celular do mandarim da Odebrecht informam, com outras palavras, é que a “Odebrecht”, espécie de benemérita das campanhas, considera-se indultada pelos serviços prestados à democracia. Seus negócios têm todo o direito de recorrer ao vale-tudo. E seus líderes não devem nada a ninguém. Muito menos explicações.