terça-feira, 3 de março de 2015

"O governo e o piloro", por Carlos Heitor Cony

Folha de São Paulo


O Brasil não está falido, mas há uma espécie de corrente não para frente, mas para trás. Basta ler os jornais, ver a tevê ou participar de um grupo avulso com mais de cinco pessoas. Que as coisas estão péssimas, estão. Em todos os setores que interessam a uma nação.

Desde a moralidade numa fase em que a corrupção parece instalada como regra política e como prática administrativa, até a confusão de um governo que exibe a monstruosidade de 39 ministros e uma presidente que nem deve saber nomes e funções específicas de cada um.

É uma culpa que pode ser coletiva, onde falta o trigo e sobra o joio plantado, sobretudo pelo PT. Evidente que a responsabilidade maior pode e deve ser atribuída à presidente, uma senhora bastante articulada mas com a visão de uma catequista que tenta explicar a seus alunos, no salão paroquial do Planalto e em suas aparições públicas, os complicados dogmas da religião petista, cujo papa emérito é o ex-presidente Lula.

Seria um pleonasmo absurdamente inútil enumerar os setores perversos da vida pública que a candidata Dilma jurou combater, instalando uma era de ouro que nem o poeta Ovídio ousaria cantar.

Em linhas gerais, são os mesmos vícios que o PT combateu e ensinou seus partidários a também combater. Deixaram de ser partidários e adotaram a metáfora de "militantes", aos quais apela em momentos de crise interna.

Apesar do pessimismo que é tão meu quanto o piloro que trago nas vísceras, sou contrário ao impeachment da presidente, a menos que apareçam provas isentas de sua responsabilidade nos escândalos de seu governo. Não a considero uma boa administradora, mas estou longe de considerá-la uma criminosa.