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segunda-feira, 30 de março de 2015
Lincoln Secco: “O antipetismo se apropriou das ruas”
Alberto Bombig - Epoca
Dois Toques* com o historiador, professor da USP e autor do livro “A História do PT” (editora Ateliê Editorial)
O professor da USP Lincoln Secco (Foto: Marcelo Min/Fotogarrafa/ÉPOCA)
ÉPOCA – O PT perdeu a disputa pelas ruas brasileiras, perdeu a força mobilizadora?
Lincoln Secco –
Há um fenômeno de longa duração na história política brasileira: a nossa
sociedade é conservadora
e uma parte dela, com mais recursos de comunicação, expressou isso através do
anticomunismo
e do "
antipopulismo
" (no passado) e, hoje, do
antipetismo
. O
PT
não pode ser acusado de comunista, assim como
Getúlio Vargas
não podia. Recorre-se então ao tema da
corrupção
para atacá-lo. O problema é que isso não ganha
eleição
. O PT está no quarto mandato na Presidência e sofre essas acusações ao menos desde 2004. É claro que agora o antipetismo foi às ruas e isso é uma novidade. Mas foi porque há uma crise que afeta e irrita as pessoas. O dólar está alto e as impede de viajar, o ajuste fiscal vai reduzir o impacto das políticas petistas para a nova classe trabalhadora. Quanto ao caráter mobilizador, o PT se afastou das ruas lentamente já nos anos 1990. Ele se profissionalizou e, em seguida, se tornou governo. Ao contrário da tradição argentina em que a presidente Cristina Kirchner sofre uma manifestação e convoca outra em seguida a seu favor, o PT busca a
conciliação
. Isso teve um preço. Desde junho, quebrou-se o encanto e as pessoas viram que o partido não é mais a única força de
mobilização social
. O PT foi expulso das ruas em junho de 2013 (manifestações que se alastraram por todo o país). A novidade não está, portanto, no
ódio ao PT
, mas no fato de que o antipetismo se apropriou de novas formas de difusão de ideias, as redes sociais, e das ruas. Nunca o PT havia assistido a uma manifestação de massas contra ele. Ainda que elas tenham se concentrado nos
redutos tradicionalmente oposicionistas
, como
São Paulo
, não é fácil colocar 200 mil pessoas nas ruas de hoje.
ÉPOCA – A crise e o presidencialismo de coalizão vão representar o fim do PT?
Lincoln Secco –
Não acho que seja o
fim do PT
. O velho PT militante acabou, mas isso não significa que não haja uma memória dele na
esquerda brasileira
, até por falta de opção, já que o
PSOL
não vingou. Se houvesse de fato o risco do impedimento de Dilma, o PT conseguiria mobilizar muita gente e, especialmente, fazer algo que a direita não pode: parar fábricas, rodovias... Não seria como em 1992, quando
Fernando Collor
não tinha partidos e sindicatos por trás dele. Teríamos uma situação muito perigosa. Os movimentos sociais do PT estão em declínio, mas essa mudança é lenta. Quanto ao
presidencialismo de coalizão
, não o vejo em colapso. É o governo do PT que está no canto do ringue. É claro que outro sistema político seria melhor. Mas isso não vai mudar. O nosso problema é ter um governo sitiado pelas ruas e pelo Congresso no início de mandato. Como será possível governar quatro anos assim? Acredito que o governo vá se fingir de morto até a poeira baixar. Mas não sei se ela vai baixar.
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