Bruno Rosa e Ramona Ordoñez - O Globo
Volume é 61% maior que em 2014. Estatal terá de usar caixa para cumprir obrigações
Sem poder captar novos recursos por não ter conseguido publicar o balanço auditado do terceiro trimestre de 2014, além de ter perdido o grau de investimento da Moody’s, a Petrobras terá que pagar este ano quase US$ 14 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões) só de dívida, volume 61% maior que no ano passado. Para 2016, a situação é mais grave: vencem quase US$ 20 bilhões (R$ 57 bilhões). Uma das saídas encontradas pela nova direção foi lançar um programa de venda de ativos no valor de US$ 13,7 bilhões neste ano e no próximo.
Segundo analistas, o cenário ficou ainda mais preocupante com a perda do grau de investimento porque, para ter acesso ao mercado financeiro, a companhia pagará juros maiores, o que dificulta rolar a dívida antiga. Além disso, há uma expectativa de que as agências de classificação de risco Fitch e Standard & Poor’s também reavaliem a nota da Petrobras. A preocupação dos analistas é que a estatal não consiga gerar caixa suficiente para arcar com o pagamento das dívidas (e juros) entre 2015 e 2016.
— A empresa terá dificuldades, pois sua geração de caixa nos últimos anos tem ficado abaixo dos valores necessários para cobrir dívidas e mais investimentos. Mesmo reduzindo o ritmo dos investimentos, ainda assim a Petrobras não consegue gerar recursos para suprir sua necessidade de caixa — disse Rodrigo Zeidan, da Fundação Dom Cabral.
Pedro Galdi, da Investment Research, lembra que a Petrobras tem que publicar o balanço auditado até junho para evitar que os credores peçam o vencimento antecipado de dívidas de longo prazo da companhia. Galdi destaca que a petrolífera tem dívida líquida de R$ 261,4 bilhões:
— A Petrobras passa por um inferno astral. O balanço precisa sair o mais rapidamente possível.
A estatal terá dificuldades em alcançar as metas anunciadas ao mercado para este ano. Analistas afirmam que a companhia não deve alcançar o patamar de US$ 28 bilhões a US$ 32 bilhões de geração de caixa operacional, já que a empresa iniciou 2015 com queda de 0,9% na produção e tem pela frente um número maior de paradas programadas em suas plataformas frente a 2014.
— É possível que algumas dessas métricas não sejam cumpridas. A venda de ativos, se ocorrer, pode forçar a empresa a vender barato demais. O preço do petróleo já começou a subir, o que reduz a vantagem sobre a venda de combustíveis no Brasil — disse Karina Freitas, da Concórdia.
SEM AJUDA DO ESTADO
Por isso, 2016 é visto com preocupação, já que a estatal vai “queimar todo o seu caixa este ano”. Alexandre Espírito Santo, do Ibmec-RJ, lembra que aportes do acionista controlador — o Estado — podem ser mais difíceis neste momento devido à política de ajuste fiscal comandada por Joaquim Levy, ministro da Fazenda.
— Agora, sem o grau de investimento, a Petrobras não tem acesso a um mercado de US$ 15 trilhões, já que há fundos de investimento que só aplicam em empresas com esse selo — disse Álvaro Bandeira, sócio da Órama, uma distribuidora de fundos.
Por isso, diz Omar Zeolla, do fundo de investimento Oppenheimer & Co, a Petrobras pode ter a ajuda de bancos estatais:
— A Petrobras não terá acesso ao mercado de capitais. Não vejo outras formas de obter recursos a não ser com a venda de ativos ou com a ajuda de bancos estatais.
Procurada, a Petrobras não respondeu.