Delação premiada de Rafael Angulo Lopez, emissário do doleiro Alberto Youssef, reforça a suspeita de que as empresas Odebrecht, Braskem e OAS tenham feito repasses de propinas ligadas a contratos da Petrobras para contas e beneficiários no exterior.
Em depoimento, Lopez afirmou que entregou dados para depósitos fora do Brasil e colheu comprovantes de transferências para o exterior (swifts, em inglês) em escritórios da empreiteira Odebrecht e da petroquímica Braskem, que fazem parte do mesmo grupo – os maiores acionistas da Braskem são a Odebrecht (38%) e a Petrobras (36%).
Lopez também relatou à força-tarefa da Operação Lava Jato que entregou dinheiro no Brasil e no exterior por indicação de representantes da construtora OAS em países como Peru, Panamá e Trinidad e Tobago. Segundo Lopez, a OAS tinha uma espécie de "conta corrente" com Youssef.
Funcionário de Youssef desde 2005, ele prestou mais de 30 depoimentos em março no âmbito da delação premiada, com o objetivo de obter redução de penas nos processos criminais da Lava Jato.
Investigadores consideram a colaboração de Lopez importante, pois ele poderá reconhecer pessoas, locais e documentos relativos a operações das quais participou pessoalmente e para as quais há maior dificuldade de apuração, como as relativas a repasses além das fronteiras brasileiras e à movimentação de dinheiro em espécie.
Em um dos testemunhos, Lopez afirmou que esteve várias vezes no escritório da Odebrecht em São Paulo entre 2010 e 2012 para se encontrar com Alexandrino de Alencar –executivo da companhia e atual diretor de relações institucionais da Odebrecht– com o objetivo de lhe entregar informações de contas para transferências ao exterior e retirar comprovantes de repasses fora do Brasil.
O depoimento traz mais um indício de que a Odebrecht tenha realizado o pagamento de subornos ligados ao esquema de corrupção na Petrobras em contas no exterior. Também em delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que recebeu propina de mais de US$ 30 milhões da Odebrecht em contas na Suíça.
BRASKEM E OAS
Lopez disse às autoridades que o mesmo trabalho de entrega de dados de contas para repasses ao exterior, além da retirada de swifts de transferências para países estrangeiros, foi realizado em visitas ao escritório da Braskem em São Paulo, em 2008 e 2009, nas quais os contatos também foram feitos com Alexandrino de Alencar.
O testemunho reforça as acusações já feitas pelos delatores Costa e Youssef de que a Braskem também pagou propina no exterior para ter vantagens ligadas a contratos de compra de matéria-prima da Petrobras. Segundo Youssef, o valor médio do suborno era de US$ 5 milhões por ano, e as reuniões para tratar do assunto começaram em 2006 com Alencar.
Em um de seus depoimentos, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras disse que as propinas da Braskem e da Odebrecht remetidas ao exterior se misturavam, "visto que são empresas do mesmo grupo".
Na delação, Lopez afirmou também que esteve várias vezes no escritório da OAS em São Paulo, desde 2012, para entregar e recolher valores em espécie, dólares, euros e reais, em montantes que variavam entre R$ 300 mil e R$ 500 mil.
No depoimento, disse que esteve na OAS inclusive na companhia de outros funcionários de Youssef, como Adarico Negromonte e João Procópio, e um dos parceiros de negócios do doleiro, o empresário Leonardo Meirelles.
OUTRO LADO
A equipe de defesa de Lopez, composta pelos criminalistas Adriano Bretas, Tracy Reinaldet e André Pontarolli, informou que a delação do emissário ainda tramita em sigilo e por isso não iria se manifestar.
Odebrecht, Braskem e OAS e o executivo Alexandrino Alencar negaram o pagamento de propinas. Em nota, a Odebrecht afirma que "não fez nenhum tipo de pagamento ou depósito para quaisquer agentes públicos ou políticos para obter contratos junto à Petrobras".
"A empresa deplora ainda o vazamento ilegal e seletivo de informações falsas, o que impede o exercício pleno do direito de defesa", completa a nota.
A Braskem aponta também em nota que "todas as negociações, pagamentos e contratos da Braskem com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança das duas empresas".
De acordo com a companhia, "é importante ressaltar que os preços praticados pela Petrobras na venda de matérias-primas nunca favoreceram a Braskem e sempre estiveram atrelados às referências internacionais mais caras do mundo, com notórios efeitos negativos para a competitividade da Braskem e da petroquímica nacional".
Quanto às afirmações dos delatores na operação Lava Jato, em nota, a OAS refutou "veementemente tais alegações".
O executivo Alexandrino Alencar, atual diretor de relações institucionais da Odebrecht, diz que as alegações dos delatores são falsas e que está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos.