terça-feira, 3 de março de 2015

Câmara recua e revoga autorização para passagens a cônjuges de deputados

Isabel Braga - O Globo

Medida foi tomada no final da manhã desta terça-feira


O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), após reunião da Mesa Diretora - Ailton de Freitas / O Globo


A Mesa diretora da Câmara decidiu no fim da manhã desta terça-feira revogar o ato que autorizava a concessão de passagem a cônjuges de deputados. Segundo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a decisão foi influenciada pela repercussão negativa da medida. A decisão acontece depois do Ministério Público Federal em Brasília recomendar a revogação do ato. Cunha, no entanto, não descartou a possibilidade do pagamento em casos excepcionais, que serão analisados pela Mesa Diretora.

- Eventuais excepcionalidades serão analisadas caso a caso, se assim o deputado o requerer, dentro do que já é atribuição da Mesa Diretora hoje. A decisão unânime foi essa: revogação, pura e simplesmente do ato e as eventuais necessidades ou requisições que possam ser feitas, em caráter excepcionais, serão tratadas caso a caso, se eles aparecerem - explicou Cunha.

Durante a discussão sobre a questão, os integrantes da Mesa Diretora discutir a possibilidade de fixar critérios para permitir o pagamento de passagens a cônjuges em casos específicos. Mas, optaram por simplesmente revogar o ato polêmico e deixar que as demandas apareçam, para serem analisadas caso a caso.

- Não dá para criar critérios e decidir quais excepcionalidades serão aceitar. Decimos deixar que as demandas apareçam. Se não, a gente ia avaliar em cima do nada - explicou a deputada Mara Gabrilli, terceira secretária da Mesa Diretora.

Com isso, caso algum deputado deseje a passagem deverá fazer uma solicitação especial à Mesa Diretora, que vai avaliar se concede ou não o benefício. Mara Gabrilli usou sua situação como exemplo. Deputada tetraplégica, ela pediu que a Casa custeasse a passagem de sua assessora, já que não pode se locomover sozinha.

- Se eu fosse usar as da minha cota, acabaria com a cota pagando passagens.
Ontem, Cunha afirmou que iria propor à Mesa Diretora uma proposta para permitir o pagamento das passagens em casos específicos. - (Defendo) criar uma condição. As excepcionalidades que poderiam ser adotadas mediante a decisão de cada caso individual.

O deputado teria que requerer, com sua justificativa. Vamos definir o critério. Essa é minha proposta, definir um critério como praticamente acontece com os assessores - disse ontem o presidente da Câmara.

Nesta terça-feira, ele voltou a justificar a revogação em razão da repercussão negativa da medida tomada na semana passada:

- Nós sempre temos que ter a humildade de andar em consonância com as versões que chegam á opinião pública e se cristalizou uma versão de que era um benefício, uma regalia, que não era o caso. A sociedade demonstrou sua contrariedade e nós que queremos atuar em sintonia com a sociedade, não podemos fechar os olhos para isso.

INVESTIGADO É CAMPEÃO DAS PASSAGENS

O ex-deputado João Pizzolatti (PP-SC) é o campeão em gastos de passagens aéreas desde que a Câmara dos Deputados acabou com a farra do benefício, em 2009. Investigado pela Operação Lava-Jato, ele usou R$ 967.533,58 para viajar durante o mandato, que terminou no fim do ano passado, superando até mesmo o ex-presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). De acordo com levantamento do “Congresso em Foco”, Vander Loubet (PT-MS) fica na segunda posição, com gasto de R$ 888.079,71, e Eduardo da Fonte (PP-PE), com gasto de R$ 877.805,52, na terceira posição.