domingo, 1 de março de 2015

"Balada para Michael Corleone", por Fabrício Corsaletti

Folha de São Paulo


ninguém escapa ao destino
ninguém evita um ciclone
e quem, em sã consciência
resiste a um saxofone?
há sortilégios no vento
maldições que vêm de longe
sinto um calafrio na espinha
quando toca o telefone
meu Deus, que vida de merda
teve Michael Corleone
seu rosto frio (Al Pacino)
branco feito mascarpone
é a muralha de um palácio
vazio, onde nem o clone
do que ele não pôde ser
ou do que foi (esse monte
de mentiras que, somadas
são a verdade) se esconde-
ria - não há nada por
trás de Michael Corleone
vamos compará-lo ao pai -
Vito, vital, canelone
disseminava chacinas
com a exuberância de um conde
amava a glutonaria
era um grande cicerone
sua morte entre os tomates
é pura como a de um monge
- o filho é estranho e mesquinho
pobre Michael Corleone
como foi mesmo que eu fiz
pra acabar assim alone?
às vezes acho que penso
que sou Michael Corleone.