Cabral põe tesoureiro do PMDB para fiscalizar grandes empresas no Rio
Como conselheiro de agência reguladora de transportes, Arthur Vieira Bastos vai vigiar grupos que doaram R$ 8,9 milhões para o partido em 2006 e 2010
Daniel Haidar - Veja
Dilma Rousseff e Sérgio Cabral em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio (Fabiano Rocha/Agência O Globo)
A ampla maioria que o governador Sérgio Cabral (PMDB) mantém na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) proporcionou um fim de ano daqueles para o Palácio Guanabara. Depois de garantir mais um aumento de salário para Cabral, aprovar a criação do auxílio-moradia para juízes e aumentar esse benefício para os promotores de Justiça, os deputados do Rio ajudaram o governador a colocar um homem de confiança para fiscalizar a atuação de grandes doadores de campanha para o partido.
Arthur Vieira Bastos, atual chefe de gabinete do secretário estadual da Casa Civil Régis Fichtner e primeiro-tesoureiro do PMDB no Rio, foi nomeado na última sexta-feira conselheiro da Agetransp, a agência reguladora que fiscaliza metrô, trem e barcas no estado do Rio. Diante da missão de vigiar e, eventualmente, punir as concessionárias pelos reincidentes transtornos causados aos passageiros, ele estreita sua relação com empresários que abasteceram os cofres do diretório fluminense do PMDB e das últimas campanhas de Cabral ao Palácio Guanabara, em 2006 e 2010.
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Só a Carioca Engenharia, sócia do consórcio RioBarra, que atua na construção da Linha 4 do metrô do Rio de Janeiro, doou 2.580.000 reais para o PMDB e campanhas de Cabral em 2006 e 2010. Foram doados 1.880.000 reais somente na última eleição para governador. Odebrecht, acionista da Linha 4 e controladora da Supervia, deu 200.000 reais em 2010, enquanto a Queiroz Galvão entregou 1.900.100 de reais. A construtora OAS, dona de 24% da Invepar (operadora do metrô do Rio), doou 1.400.000 reais em 2010 e 800.000 reais em 2006. A Camargo Correa, que tem 17% da CCR (operadora das Barcas), doou 2.000.000 de reais em 2010.
A nomeação fere a lei. Pela legislação, Vieira Bastos não só deveria estar fora do cargo de tesoureiro como precisaria estar sem atividade partidária para assumir a função de conselheiro da Agetransp, sob risco de perder o mandato. Mas isso sequer foi citado na sabatina pelos deputados estaduais. Até esta segunda-feira ele constava como filiado ao PMDB no site do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro.
Também está filiado ao diretório fluminense do PDT o ex-deputado Carlos Correia, que é secretário-geral do partido no estado do Rio de Janeiro. Ele também foi nomeado por Cabral como um dos conselheiros da Agetransp.
“Fui o único que votou contra a indicação de todos eles infelizmente. Não esperava que cometessem um erro tão primário, de não se desfiliar. Vou atrás disso”, disse o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), de oposição a Cabral.
Comparado ao histórico da Agetransp, Freixo não se surpreendeu com as nomeações: “É uma agencia regulada pelo governo para não arrumar problema com os sócios na área de transportes. Quando Agetransp multa, não é cobrada e não é paga”.
As indicações de Cabral para a Agetransp chocaram não só pela falta de experiência no setor de quatro nomeados, mas também por ter colocado Cesar Mastrangelo, ex-vice-presidente do metrô no Rio, para fiscalizar a antiga empregadora. Completam o time de fiscais a ex-deputada do PMDB Cida Gama, que é mulher do ex-conselheiro João Carlos Loureiro, e a ex-chefe-de-gabinete do deputado Paulo Melo (PMDB) Lucineide Cabral Marchi.