O regime autoritário quer se livrar da direita, especialmente de Bolsonaro, e por isso produziu uma peça de ficção para denunciá-lo pelo 'golpe armado' que nunca aconteceu
U m show trial, ou julgamento-espetáculo, é um julgamento público em que a culpa ou inocência do réu já foi decidida. O objetivo de um julgamento-espetáculo é influenciar a opinião pública e punir o réu. Em 1937 e 1938, o regime soviético realizou uma série de julgamentos a portas fechadas dos principais líderes militares. Os julgamentos fizeram parte de um expurgo maior dos militares soviéticos. Os julgamentos foram encenados, e os acusados foram forçados a dizer palavras escritas. Tudo não passou de um espetáculo.
Os comunistas soviéticos foram os mestres nessa arte, mas tudo começou com os jacobinos na Revolução Francesa. Julgamentos sumários coletivos serviam para dar um falso ar de legitimidade ao puro expurgo de dissidentes e críticos, os “contrarrevolucionários”. No terceiro filme da trilogia de Batman de Christopher Nolan, o vilão representado por Bane incorpora essa postura jacobina e promove julgamentos coletivos em praça pública para justificar a matança geral e o extermínio de “elementos perigosos”. Em Cuba, herdeira dos jacobinos, o paredão era usado para ceifar a vida de milhares de inocentes cujo “crime” era discordar de Fidel Castro.
Ou seja, um show trial ocorre quando um regime opressor quer se livrar de críticos e adversários incômodos, e precisa dar um verniz de legalidade ao ato de pura violência. Ninguém mais pode ter dúvidas de que é isso que se passa no Brasil de hoje. O regime autoritário, controlado pelo consórcio que inclui o governo federal lulista, o Supremo Tribunal Federal e a velha imprensa dando suporte às narrativas fajutas, quer se livrar da direita, especialmente de Bolsonaro, e por isso produziu uma peça de ficção para denunciá-lo pelo “golpe armado” que nunca aconteceu.
As fragilidades jurídicas são tantas que caberiam num texto à parte só para apontá-las. Mas mesmo um leigo pode se dar conta de que nada ali remete ao devido processo legal, respeitando-se o instrumento acusatório, a individualização das ações, a necessidade de provas robustas, e por aí vai. Toda a denúncia se baseia na colaboração de Mauro Cid, cujos vídeos o STF só liberou sob pressão. Não é para menos: está claro, pelo conceito do próprio Gilmar Mendes e seus pares supremos, que Cid foi colocado sob tortura. É o pau de arara moderno!
Segundo Fabio Serapião, do Metrópoles, Alexandre de Moraes grampeou o telefone e monitorou Mauro Cid após “omissão” em delação. Cid é ameaçado de prisão durante sua colaboração! Num áudio a que Veja teve acesso, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro reclamava que era forçado a entregar aquilo que o ministro queria ouvir, e que suas falas eram distorcidas e manipuladas. Ele nunca falou em golpe, por exemplo, tampouco admitiu qualquer conspiração criminosa.
Moraes tinha sua cama de Procusto, e, se o depoente não se encaixasse exatamente no tamanho predeterminado, seria cortado ou esticado até caber perfeitamente dentro da narrativa pronta. Até os familiares de Cid foram alvos de intimidação e ameaça, ou seja, Moraes partiu para o estilo soviético sem qualquer pudor, agindo feito um tirano.
Aqueles que denunciam o suposto “golpe armado” sem armas e prometem um julgamento imparcial são os mesmos que confessam ter derrotado o bolsonarismo, que anularam todas as provas da Lava Jato contra os petistas e seus companheiros, que atropelam a Constituição para governar o país e perseguir críticos, censurar jornalistas e prender “terroristas” armados apenas de Bíblias, bandeiras do país ou batom. É tudo simplesmente ridículo demais, escancarado demais, patético demais.
Chega a ser constrangedora a postura de quem precisa fingir que leva a sério um espetáculo desses, criticando pontualmente uma ou outra medida, mas ignorando o “big picture”, aceitando a premissa absurda de que temos qualquer coisa parecida com um Estado de Direito ainda remanescente no Brasil. O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, chegou a incluir o pitoresco episódio da falta de táxi em sua denúncia, ou seja, o golpe não foi adiante porque não tinha transporte disponível! Se o intuito de Gonet é se qualificar como roteirista em Hollywood, ele precisa torcer muito para que a queda de qualidade dos estúdios tomados por ideologia woke permita espaço para uma pornochanchada dessas. Talvez como filme de comédia de Woody Allen ele consiga algo…
O Brasil não é um país sério. Foi dominado por bandidos e seus cúmplices togados, que protegem marginais de verdade e perseguem inocentes. Muitos temiam que o país virasse uma nova Venezuela, enquanto os ministros supremos debochavam dos críticos do comunismo. Eis que o Brasil já virou uma Venezuela! Lá o regime de Maduro também persegue opositores com denúncias ridículas de “tentativa de golpe de Estado”. Lá também a Corte Suprema virou um puxadinho do governo esquerdista. Lá também temos os “show trials” inspirados nos jacobinos e seus herdeiros soviéticos.
A única
esperança dos brasileiros de bem é que o estágio de consolidação do
regime não esteja tão avançado como lá, e que ainda dê tempo de o
povo, nas ruas e com a ajuda americana do governo Trump, consiga
reverter o quadro e resgatar a democracia. Não será nada fácil, pois o
regime está com o poder nas mãos, dobrando a aposta a cada semana.
E seu intuito está claro: prender Bolsonaro com o pretexto que for. Por
isso vem aí o “show trial” mais ridículo de todos: o julgamento da
tentativa de golpe inexistente.
Rodrigo Constantino - Revista Oeste