sábado, 22 de fevereiro de 2025

Guilherme Fiuza - 'Confissões no tapete vermelho'

 'Se não fosse o Lula o filme não existiria'


Foto: Shutterstoc


— Parabéns pelo filme. 

— Dê os parabéns ao Lula.

- Foi ele quem dirigiu? 

— Não. 

— Foi ele quem patrocinou? 

— Não. 

— Foi ele quem inspirou? 

— Não. 

— Por que então parabenizá-lo? 

— Porque se não fosse ele o filme não existiria.

— Ah, ele produziu. 

— Não. 

— Distribuiu. 

— Não. 

— Divulgou. 

— Também não. 

— O que ele fez, então? 

— Foi eleito. 

— Certo. Mas por isso ele tem que ser parabenizado pelo filme? 

— Exatamente. 

— Pode explicar melhor?

 — Claro. A eleição dele impediu que o filme fosse censurado. 

— Ah, o governo anterior disse que ia censurar. 

— Não. 

— Bem… Por que você acha que seria censurado? 

— Acho, não. Tenho certeza. 

— Por que você tem certeza? 

— Porque é isso que ditadura faz: censura. 

— Era uma ditadura antes do Lula? 

— Era. 

— Outros filmes foram censurados? 

— Me recuso a responder. 

— Por quê? 

— É perigoso. 

— Mas o Lula não tirou a ditadura do poder? 

— Tirou. Mas tem o fantasma da ditadura. 

— Ah, é? Onde ele tá? 

— Por aí. 

— Que medo. 

— É assustador.

-  Vejo toda hora. 

— E o que você faz? 

— Ligo pro Lula. 

— Ele enfrenta o fantasma? 

— Só de ouvir a voz dele já me acalmo.

 — Que bom. O que ele te fala?

 — Cala a boca já morreu. 

— Bonito. E se ressuscitar é só até segunda-feira, né? 

— Isso. No máximo terça. 

— Estourando, quarta. 

— Enfim, ninguém tem nada com isso. Ressurreição é um estado de espírito. 

— E bota espírito nisso. 

— Importante é que a democracia voltou. 

— Viva ela! Agora fala um pouco do filme. 

— O que mais me emocionou foi o discurso do Lula na ONU. 

— Isso tá no filme? 

— Não. 

— Te perguntei do filme…

— Eu falo do que eu quiser. Não tente me censurar! 

— Desculpe. Não foi a minha intenção. O que mais te emocionou no discurso do Lula? 

— O Lula.

 — Ah, bacana. E quais são as suas principais referências históricas? 

— Além do Lula? — Sim. Se houver, claro. — Em segundo plano são muitas. 

— Pode dar alguns exemplos? 

— Claro: Odebrecht, OAS, Atibaia, Guarujá, Bumlai, Vaccari, Delúbio, Cerveró, Duque, Santana, Valério, Comperj, Compar, Abreu e Lima, Silvinho, pedalinho, Valdebran, Gedimar, Freud…

 — Ah, você é freudiano?

 — Sou. Mas não conta pra ninguém.


Foto: Revista Oeste/IA

Guilherme Fiuza - Revista Oeste