'Se não fosse o Lula o filme não existiria'
— Parabéns pelo filme.
— Dê os parabéns ao Lula.
- Foi ele quem dirigiu?
— Não.
— Foi ele quem patrocinou?
— Não.
— Foi ele quem inspirou?
— Não.
— Por que então parabenizá-lo?
— Porque se não fosse ele o filme não existiria.
— Ah, ele produziu.
— Não.
— Distribuiu.
— Não.
— Divulgou.
— Também não.
— O que ele fez, então?
— Foi eleito.
— Certo. Mas por isso ele tem que ser parabenizado pelo filme?
— Exatamente.
— Pode explicar melhor?
— Claro. A eleição dele impediu que o filme fosse censurado.
— Ah, o governo anterior disse que ia censurar.
— Não.
— Bem… Por que você acha que seria censurado?
— Acho, não. Tenho certeza.
— Por que você tem certeza?
— Porque é isso que ditadura faz: censura.
— Era uma ditadura antes do Lula?
— Era.
— Outros filmes foram censurados?
— Me recuso a responder.
— Por quê?
— É perigoso.
— Mas o Lula não tirou a ditadura do poder?
— Tirou. Mas tem o fantasma da ditadura.
— Ah, é? Onde ele tá?
— Por aí.
— Que medo.
— É assustador.
- Vejo toda hora.
— E o que você faz?
— Ligo pro Lula.
— Ele enfrenta o fantasma?
— Só de ouvir a voz dele já me acalmo.
— Que bom. O que ele te fala?
— Cala a boca já morreu.
— Bonito. E se ressuscitar é só até segunda-feira, né?
— Isso. No máximo terça.
— Estourando, quarta.
— Enfim, ninguém tem nada com isso. Ressurreição é um estado de espírito.
— E bota espírito nisso.
— Importante é que a democracia voltou.
— Viva ela! Agora fala um pouco do filme.
— O que mais me emocionou foi o discurso do Lula na ONU.
— Isso tá no filme?
— Não.
— Te perguntei do filme…
— Eu falo do que eu quiser. Não tente me censurar!
— Desculpe. Não foi a minha intenção. O que mais te emocionou no discurso do Lula?
— O Lula.
— Ah, bacana. E quais são as suas principais referências históricas?
— Além do Lula? — Sim. Se houver, claro. — Em segundo plano são muitas.
— Pode dar alguns exemplos?
— Claro: Odebrecht, OAS, Atibaia, Guarujá, Bumlai, Vaccari, Delúbio, Cerveró, Duque, Santana, Valério, Comperj, Compar, Abreu e Lima, Silvinho, pedalinho, Valdebran, Gedimar, Freud…
— Ah, você é freudiano?
— Sou. Mas não conta pra ninguém.
Guilherme Fiuza - Revista Oeste