Resultado da Petrobras, bem como falas do novo presidente da estatal, foram destaques do pregão desta quinta-feira
O Ibovespa fechou em queda de 1,01% nesta quinta-feira (2), aos 103.325 pontos, na contramão do exterior, por conta do noticiário interno.
Pesou sobre o índice, principalmente, o desempenho das ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4), que fecharam em queda de 2,75% e 2,61%, respectivamente. A petroleira estatal foi impactada pelos rumores de mercado sobre as mudanças na estatal e por falas do seu novo diretor executivo (CEO), que realizou uma coletiva de imprensa e uma teleconferência com analistas, após a companhia ter publicado, na véspera, seu resultado do quarto trimestre de 2022.
Apesar de os números teres sido considerados fortes, o novo presidente, em suas reuniões, não foi muito claro sobre como será a operação da companhia no futuro. Apesar de defender que pretende manter uma política de dividendos “robusta”, mencionou também que a petroleira pode diminuir seus preços (segundo ele não por subsídio mas sim para buscar uma “maior fatia de mercado”) e que a Petrobras passará a investir mais na transição energética.
“Prates destacou um cenário que não parece apontar para mudanças de alocação de capital no curto-prazo. Ao mesmo tempo, as incertezas relacionadas à política de dividendos e à política de preço continuam e devem pesar sobre as ações”, comentou o Bradesco BBI, em relatório.
Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a atacar os dividendos da companhia, que seriam provenientes do que ele considera uma “falta de investimentos por parte da estatal no futuro do Brasil”.
A performance da Petrobras acabou respigando também no cenário macroeconômico – que teve outros gatilhos durante o dia.
“No Brasil, a curva de juros abriu mais por conta dos comentários internos. Segue a pressão do governo, hoje até em um front novo, sobre a pressão do Banco Central. Hoje foi a Simone Tebet [ministra do Planejamento] que cobrou uma baixa de juros”, expõe Rodrigo Jolig, co-CEO e diretor de investimentos na Alphatree Capital.
Simone Tebet, que participa do Conselho Monetário Nacional (CMN), era vista, até então, como uma ala mais técnica do governo que protegeria o BC.
A declaração da ministra veio após a divulgação do produto interno bruto (PIB) brasileiro do quarto trimestre. A queda de 0,2% veio em linha com o consenso, mas analistas pensam que a pior performance da economia pode aumentar as pressões sobre a instituição monetária.
Nem mesmo a notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, irá concluir uma proposta de novo arcabouço fiscal nesta semana tirou pressão da curva de juros. Os DIs para 2024 ganharam 8,5 pontos-base, a 13,38%, e os para 2025, 20,5 pontos, a 12,84%. Os contratos de juros futuros para 2027 fecharam a 13,25%, com mais 26 pontos, e os para 2029, a 13,62%. Os DIs para 2031 ficaram em 13,77%, com mais 25 pontos.
Entre as maiores quedas do Ibovespa, ficaram diversas companhias ligadas ao mercado interno, impactadas pela alta dos juros, e bancos. As ações ordinárias da Qualicorp (QUAL3) recuaram 4,91%,as da Rede D’Or, 3,90%, e as da Multilaser (MULT3), 3,30%. Os papéis da Magazine Luiza (MGLU3) tiveram baixa de 2,48%. Os papéis do Banco do Brasil, por sua vez, recuaram 4,02%.
“Na ponta negativa, vale a pena destacar a queda do Banco do Brasil, caindo com muita cautela do mercado no sentido de eventuais ingerências do governo sobre a companhia. O mercado já “torceu o nariz” para a Petrobras nos últimos dias e parece que, pelo fato do Banco do Brasil ser uma estatal, o mercado não está gostando”, comenta Leandro Petrokas, analista de investimentos, diretor de research e sócio da Quantzed.
Por fim, a curva de juros brasileira também foi pressionada pelo que foi visto no exterior. Apesar de os índices americanos terem fechado em alta – Dow Jones com mais 1,05%, S&P 500 com mais 0,76% e Nasdaq com mais 0,73% -, o dia, por lá, também foi de alta dos juros. O treasury yield para dez anos foi a 4,064%, com mais 6,8 pontos-base.
“Principal lá de fora é a inflação. Na Europa, os preços seguem pressionando, voltando a subir, acompanhando o que já vimos nos Estados Unidos. Há uma pressão que faz os juros no mundo inteiro abrindo”, cometa Jolig.
Para Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset, tudo isso gera um tom de cautela. “Seguimos em uma semana pesada, com o índice operando em terreno negativo sendo que, lá fora, os índices estão no zero a zero. Muito peso para o noticiário local”, afirma.
Com a alta dos juros americanos, o dólar ganhou força mundialmente. O DXY, que mede a força da divisa dos EUA frente a outras de países desenvolvidos, subiu 0,48%, aos 104,98 pontos. Frente ao real, a alta foi de 0,24%, a R$ 5,203 na compra e a R$ 5,204 na venda.
Vitor Azevedo, InforMoney