sexta-feira, 1 de julho de 2022

'O Brasil despiorou', escreve Sílvio Navarro

 

Foto: Shutterstock


Dois anos depois de a velha imprensa ter inventado uma nova palavra para não elogiar o governo, a economia dá sinais concretos de melhora


Na última segunda-feira, 27, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o pior momento da inflação havia passado. No dia seguinte, os números do Caged (banco de dados do Ministério do Trabalho) mostraram recorde de criação de empregos com carteira assinada. São novas notícias positivas para a economia do país, uma realidade muito diferente das retratadas nas manchetes da velha imprensa.

Foto: Reprodução

Há dois anos, quando os lockdowns e outras medidas restritivas estavam a pleno vapor, a mídia mainstream começou um contorcionismo linguístico para tentar distorcer informações favoráveis ao governo Jair Bolsonaro. O verbo “despiora”, usado pela Folha de S.Paulo, virou piada. Mas o jornal gostou tanto que passou a repeti-lo, numa clara linha editorial que proíbe associar qualquer informação boa ao presidente. 

A moda pegou nas redações. 

Analistas passaram a anunciar uma hecatombe econômica para este ano, com recessão similar aos mais tenebrosos anos da gestão Dilma Rousseff. Pior: com a economia em ruínas, o número de desempregados superaria o da era petista.

Aconteceu exatamente o contrário. Mesmo num cenário de inflação global pelos efeitos da pandemia e de uma guerra em curso há quatro meses na Europa, os jornalistas, “infelizmente”, tiveram de repassar notícias boas.

A primeira delas foi a revisão do Produto Interno Bruto (PIB). Como disse Campos Neto nesta semana, durante evento em Portugal, o Brasil é um raro caso no mundo em que “as revisões estão sendo feitas para cima”. 

A última estimativa indica crescimento da economia de pelo menos 1,7% até o fim do ano — alguns bancos de investimento falam em 2%. O prognóstico de melhora vai na contramão do rebaixamento que o Banco Mundial estima para o PIB global — recuou de 4,1% para 2,9%.

“A guerra na Ucrânia, os lockdowns na China e as interrupções na cadeia de suprimentos prejudicam o crescimento”, disse nesta semana David Malpass, presidente do Banco Mundial. “Para muitos países, a recessão será difícil de evitar”

O desempenho brasileiro no exterior destoa do cenário global. “Em 2021, o Brasil atingiu uma corrente comercial de US$ 500 bilhões”, afirma Marcos Troyjo, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o “Banco dos Brics” — referência a cinco países emergentes: Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. Ele foi secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia no início do governo Bolsonaro.

“As exportações chegaram a US$ 280 bilhões”, conta Troyjo. “O superávit, num cenário de guerra comercial, foi de US$ 61 bilhões. Isso vai crescer mais neste ano, pela performance dos cinco primeiros meses. Mostra que, além do cenário interno, temos vocação para crescer no exterior.”

Emprego

Outro dado que deixou os articulistas em parafuso foi a queda no desemprego, um triste espólio do final da era petista. O volume de carteiras assinadas chegou a 280 mil em maio, num total de 42 milhões de vínculos formais de emprego. O mercado de trabalho venceu a covid.

A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), permite uma análise mais apurada. Pela primeira vez em seis anos, o índice de desempregados ficou abaixo de dois dígitos (9,8%).

O arranque foi puxado pelo setor de serviços, justamente o mais sacrificado durante a pandemia. Um dos exemplos citados pelo próprio instituto foi a reabertura dos salões de beleza e dos transportes. A média salarial mensal do brasileiro foi de R$ 1,9 mil.

“Torcedores do caos se decepcionam: todos os índices de atividade econômica e de mercado de trabalho surpreendem positivamente”, diz Alan Ghani, economista-chefe do SaraInvest e professor do Insper. “De previsão negativa no início do ano, o PIB poderá crescer mais do que 2% em 2022.”

Também em maio, o Banco Central informou que as contas públicas estão em ordem. O superávit primário consolidado — União, Estados, municípios e estatais — chegou a R$ 40 bilhões em abril. Ou seja, a arrecadação com impostos foi maior do que as despesas.

Vilão do planeta

O fiasco das profecias caóticas forçou a oposição a Jair Bolsonaro — dentro e fora das redações — a buscar outro discurso. No ano eleitoral, a munição encontrada foi culpá-lo pela inflação, atualmente em 12%, e pelo preço dos combustíveis e do gás de cozinha.

A inflação, de fato, é um problema — mas um problema global. Números alarmantes têm sido registrados nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina inteira. Na Turquia, bateu em 73%. A vizinha Argentina é um retrato do drama: a inflação bateu 60%, o que tem promovido cenas de remarcação de preços em gôndolas de supermercados de Buenos Aires semelhantes às registradas durante o governo José Sarney. O peso argentino segue em desvalorização acelerada, e os comerciantes oferecem descontos para pagamentos em dólar ou real.

“Somos a oitava economia do mundo. Vamos crescer 2% neste ano. Somos um dos cinco principais destinos de investimento direto. Temos a maior corrente comercial da história” (Marcos Troyjo)

A inflação dos alimentos abriu caminho para o consórcio da imprensa trocar o rótulo de presidente genocida por um de tirano que espalha fome. Imagens de pessoas em situação de miséria passaram a ser estampadas na primeira página de jornais e portais na internet. Bolsonaro reagiu lembrando o discurso da própria mídia e seus aliados políticos: “Fique em casa, a economia a gente vê depois”. Não foi o bastante.

A situação é semelhante com os combustíveis, uma commodity em alta mundial. Imagens com valores nas alturas de bombas de gasolina e diesel passaram a ser usadas ao lado de cobranças ao governo. Bolsonaro respondeu que, ao contrário de outras petroleiras pelo mundo, a Petrobras não reduziu sua margem de lucro e derrubou os presidentes da estatal em série. O consórcio de mídia adorou e publicou uma avalanche de manchetes que fizeram lembrar o petrolão — quando os cofres da empresa foram pilhados nos governos Lula e Dilma.

Bolsonaro mais uma vez respondeu. Mandou um pacote de medidas ao Congresso para tentar amenizar o impacto da inflação na renda da população pobre e segurar o preço dos combustíveis. A primeira cartada foi fixar em 17% a cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis, o imposto de energia elétrica, combustíveis e transporte coletivo. Com isso, “dividiu a conta” com os governadores, que saíram da pandemia com os cofres cheios.

A segunda e mais ousada foi o envio de uma emenda à Constituição de amplia o valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 até o fim do ano, inclui mais 1,6 milhão de famílias no programa e dobra o vale-gás — R$ 120 por bimestre. Os caminhoneiros autônomos passam a receber um voucher de R$ 1.000 para abastecimento. Para não incorrer em crime eleitoral, já que a legislação proíbe a criação de benefícios neste ano, foi decretado estado de emergência no país. Desde o anúncio da elaboração do texto, o consórcio da imprensa decretou que o presidente cometeu crime eleitoral.



O fato é que nunca se torceu tanto contra o Brasil nas páginas dos jornais. E ninguém imaginava que a recuperação econômica pós-pandemia fosse tão rápida. 

O Brasil “despiorou” mesmo.

Leia também “A economia desmente os pessimistas”

Sílvio Navarro, Revista Oeste