quinta-feira, 4 de março de 2021

Mensagens apontam que Cármen Lúcia orientou Deltan sobre soltura de Lula

Mensagens da Operação Spoofing

MPF nega veracidade das mensagens

A presidente do STF, ministra Cármen LúciaSérgio Lima/Poder360


peticao-defesa-lula-stf-4.mar.2021Trechos de mensagens obtidas pela operação Spoofing, que investiga o vazamento de mensagens de celulares de autoridades, apontam indícios de que a ministra Cármen Lúcia do STF (Supremo Tribunal Federal) orientou membros da operação Lava Jato a manterem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso, em 2018, quando uma ordem do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª região) determinou a soltura do líder petista.

As mensagens constam em uma petição encaminhada ao STF pela defesa do ex-presidente, no processo em que é questionada a isenção do ex-juiz Sergio Moro, nas denúncias envolvendo Lula, nesta 5ª feira (4.mar.2021). Leia a íntegra (3,2 MB).

Nas mensagens anexadas ao documento, Deltan Dallagnol conversa com outros membros da força-tarefa do MPF (Ministério Público Federal), sobre a situação envolvendo a possível libertação de Lula. Segundo a transcrição, ele afirma ter conversado com Cármen Lúcia e diz que a ministra falou com o então ministro da Justiça, Raul Jungmann, orientando para que a ordem do TRF-4 não fosse cumprida.

“Carmem Lúcia ligou pra Jungman e mandou não cumprir e teria falado tb com Thompson”, disse Deltan. À época, a ministra presidia o STF.

Thompson seria uma referência ao juiz federal Thompson Flores, presidente do TRF-4 à época da decisão que determinou a soltura de Lula. Foi dele quem partiu uma segunda determinação que suspendeu a libertação do ex-presidente. O alvará de soltura havia sido expedido pelo juiz Rogério Favreto.

OUTRO LADO

Procurado pelo Poder360, o MPF em Curitiba disse os procuradores da República que integraram a força-tarefa Lava Jato não reconhecem o material. “Criminosamente obtido por hackers, que tem sido editado, descontextualizado e deturpado para fazer falsas acusações sem correspondência na realidade“.

A entidade, que responde por Dallagnol, diz que é legítimo e legal que membros do Ministério Público despachem com juízes e desembargadores, como advogados fazem. “Já Juízes têm obrigação de atender as partes e ouvir seus pedidos e argumentos, conforme previsto no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil“.

Sobre a soltura do ex-presidente Lula, o MPF afirma que a decisão emitida não prevaleceu nos Tribunais, quer quando examinada pelo então relator do caso, quer quando analisada pelo presidente do Tribunal. “É absolutamente natural que membros do Ministério Público busquem a reforma de decisões que reputam ilegais”. E que mesmo que as supostas mensagens tenham ocorrido, elas só demonstram o zelo do Ministério Público em defender o interesse público.

Já a ministra Cármen Lúcia não retornou o contato, assim como o ex-superintendente da Polícia Federal, Maurício Valeixo, também citado nas mensagens.

Poder360