quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Trump concentra esforços na reeleição

WASHINGTON - Após três meses de debates, depoimentos e ações judiciais, o Senado dos EUA absolveu nesta quarta-feira, 5,  Donald Trump das duas acusações no processo de impeachment. Para destituí-lo, os democratas precisavam de dois terços dos 100 senadores – ou seja, 20 votos republicanos. Obtiveram apenas um: Mitt Romney, conhecido desafeto de Trump.
Trump, que agora pode se concentrar na campanha pela reeleição, era acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso. Entre julho e setembro, ele teria usado os privilégios do cargo para pressionar o governo da Ucrânia a investigar o democrata Joe Biden, pré-candidato presidencial e um dos rivais mais complicados de derrotar em novembro – o ex-vice-presidente dos EUA lidera a maioria das pesquisas. 
EUA - Senado - Donald Trump
O Capitólio, em Washington; absolvição de presidente acontece após três meses de debate   Foto: Daniel Pierce Wright/Getty Images/AFP
Em seguida, quando os congressistas começaram a investigar o caso, a Casa Branca escondeu documentos e vetou o depoimento de assessores. Após meia hora de votação, dos 100 senadores, 52 republicanos consideraram o presidente inocente de abuso de poder (apenas Romney votou contra, ao lado dos democratas) e 53 o livraram da acusação de obstrução do Congresso
O longo martírio de Trump começou em setembro, quando a Casa Branca resolveu publicar a transcrição de uma conversa entre Trump e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, na qual o americano pressionava pela abertura de uma investigação a respeito de Biden e de seu filho Hunter. 
Na semana seguinte, os deputados democratas receberam uma denúncia anônima de um delator que denunciava abuso de poder de Trump – e Nancy Pelosi, que preside a Câmara dos Deputados, abriu um inquérito que eventualmente se transformou em um processo de impeachment do presidente.
Antes de Trump, apenas dois presidentes americanos enfrentaram um julgamento político no Congresso. Andrew Johnson, em 1868, foi salvo pelo Senado por apenas um voto. Em 1998, o democrata Bill Clinton também foi condenado pelos deputados e resgatado pelos senadores. O republicano Richard Nixon renunciou em 1974 antes da votação. 

Novos depoimentos

A absolvição no Senado, no entanto, não significa que Trump terá sossego até a eleição. Ainda hoje, o presidente da Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados, o democrata Jerry Nadler, disse que pretende convocar o ex-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca John Bolton para depor sobre irregularidades cometidas por Trump, mesmo após o término do processo de impeachment.

Bolton mostrou disposição para depor, caso fosse convocado pelo Senado, mas os republicanos vetaram testemunhas na última fase do processo. Segundo Nadler, porém, a Câmara pode convocar Bolton mesmo após Trump ter se livrado do impeachment. “Quando você tem um presidente sem lei, precisa trazer isso à tona”, disse. “É preciso proteger a Constituição, quaisquer que sejam as consequências políticas.”  

NYT, AP, REUTERS, AFP e O Estado de S.Paulo