O Brasil continuará a ser um importante exportador de grãos para a China no médio e longo prazo, mesmo após a conclusão do acordo que põe fim à guerra comercial sinoamericana, prevista para o final deste ano, afirma a Fitch Ratings, agência de classificação de risco.
De acordo com a diretora-executiva e responsável por energia e utilities na Ásia-Pacífico e de iniciativas de pesquisas sobre a China da agência, Yian Wang, as relações comerciais entre o país asiático e a América Latina cresceram 20 vezes entre 2000 e 2019.
"A região responde por 70% de toda a importação da China. E, desse total, a exportação no Brasil é algo perto de 50%. São os principais fornecedores de ferro, cobre, soja e carne", afirmou em evento nesta quinta-feira (5).
Em janeiro, a China e os Estados Unidos assinaram a primeira fase do acordo que pode colocar um fim à guerra comercial entre os dois países.
Entre os detalhes do acordo, está a exigência de que as empresas chinesas comprem US$ 40 bilhões em produtos agrícolas americanos nos próximos dois anos.
A China, que atualmente importa esses produtos principalmente do Brasil, é o maior comprador da nossa balança comercial.
"Esperamos que, com o acordo, a China passe a importar mais dos EUA, mas o Brasil ainda será um dos principais exportadores de grãos no médio prazo", disse Wang.
EFEITO CORONAVÍRUS
A diretora afirmou também que o ritmo de crescimento da economia chinesa desacelerou nos últimos anos e que alguns setores, como indústrias de manufaturados, já refletem esse impacto.
"Isso passa a mensagem que se o vírus não for contido até o fim do primeiro trimestre, mais setores poderão ser impactados e o risco de liquidez do país pode aumentar" disse Wang.
Segundo ela, o ponto mais drástico dessa situação seria o fato de que muitas empresas, especialmente do setor privado, podem não ter caixa suficiente para lidar com a paralisação.
A expectativa da Fitch é que o PIB da China cresça 6% neste ano, ante 6,1% de 2019.
Isabela Bolzani, Folha de São Paulo