segunda-feira, 1 de abril de 2019

Retrocesso no combate à corrupção impacta economia, afirmam Moro, Dallagnol e Barroso em debate


Debate sobre os desafios do combate à corrupção com o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Foto: Gabriela Biló / Estadão
Eventuais retrocessos na Operação Lava Jato e no combate à corrupção podem afetar negativamente a economia do País. A análise é dos participantes do debate ‘Estadão Discute Corrupção’ realizado nesta segunda-feira, 1.º, na sede do ‘Estado’, em São Paulo. (Veja como foi o evento aqui).
O evento foi uma parceria do ‘Estado’ com o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP) e contou com palestras do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso; do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
Também participou do debate a economista e estudiosa da teoria da corrupção Maria Cristina Pinotti, que lançou o livro Corrupção: Lava Jato e Mãos Limpas. Ela afirmou que a Itália “pagou caro por abafar a Operação Mãos Limpas”. “Se o Brasil quer acabar com a Lava Jato, tem que estar preparado para o custo disso. Corrupção e desenvolvimento econômico andam juntos”, afirmou.
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, que enviou ao Congresso o pacote anticrime e anticorrupção, afirmou que trabalha com o Legislativo para a aprovação deu seu projeto. “Não será no meu turno como ministro que vamos deixar os esforços contra corrupção serem perdidos”, afirmou Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato. “Há muitas semelhanças entre as operações (Mãos Limpas e Lava Jato), temos que trabalhar com o sistema político para que não tenhamos retrocessos. Um avanço vai gerar ganhos para a economia e para a qualidade da nossa democracia”, disse. “O sistema de corrupção impede a eficiência econômica”, diz Moro
A proposta de Moro estabelece prisão como regra para condenados em segunda instância, punição mais rigorosa para condenados por corrupção, maior restrição no uso dos embargos infringentes e o ‘plea bargain’, quando o acusado confessa o crime e escolhe o caminho do acordo para diminuir sua pena.
“Não precisamos só do ‘pacote do Guedes’”, afirmou Maria Cristina, em referência ao ministro da Economia, Paulo Guedes. “O pacote do Guedes precisa estar acompanhado do pacote do Moro”, completa.
O ministro do STF, Luis Roberto Barroso, afirmou que livro lançado por Maria Cristina ajuda a entender corrupção, economia e desenvolvimento. O ministro citou os custos sociais da corrupção. “É o dinheiro que não vai em quantidade suficiente para a educação, para a saúde, para consertar estradas. Corrupção mata. É um crime grave praticado por gente perigosa”.

Moro, Barroso e Dallagnol discutem combate à corrupção em evento no 'Estado'. Foto: Felipe Rau/Estadão
O procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, também fez comparações com Operação Mãos Limpas na Itália. “Sem renovação das práticas políticas, o trabalho da Lava Jato pode ser, em grande medida, em vão”, diz, citando que essa é uma possível visão pessimista da questão. “É possível, sim, o triunfo do retrocesso. A corrupção sempre contra-ataca. A luta contra a corrupção é uma luta da sociedade brasileira”.
O Estado de São Paulo