Dois dados objetivos podem resumir tanto a sexta-feira (18) tumultuada do mundo financeiro como a conjuntura econômica brasileira mais ampla. Trata-se das taxas de juros no mercado e da receita de impostos federais. Esses indicadores, entrelaçados, apontam para um estado de degradação sem desfecho visível.
A taxa de juros negociada no mercado para prazos mais longos segue na disparada que começou em julho, quando o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) praticamente desistiu de equilibrar neste ano suas despesas e receitas.
Além disso, a arrecadação federal diminui cada vez mais depressa. De janeiro a agosto, a receita encolheu 3,7% ante mesmo período do ano anterior; de janeiro a julho, encolhia ao ritmo de 2,9%.
A piora contínua das contas do governo alimenta a deterioração dos mercados de juros, dólares e ações, embora não tenha sido apenas esse o motivo da turbulência.
Grandes investidores internacionais reagiam à decisão do banco central dos EUA, que desistiu de elevar as taxas de juros também devido a fraquezas da economia mundial, em particular nos países emergentes, como China e Brasil.
Na frente doméstica, especulava-se que estaria próximo um novo rebaixamento da nota de crédito do governo brasileiro, que já perdeu o selo de bom pagador conferido pela agência Standard & Poor's.
No entanto, o nervosismo que aproximou a cotação do dólar dos R$ 4 foi apenas um capítulo mais tenso de um enredo em curso desde meados do ano, no qual atuam fragilidades econômicas e políticas.
A receita do governo cai, o controle de gastos é ineficaz e as medidas destinadas a reequilibrar o Orçamento, tímidas, são bombardeadas por integrantes do próprio governo, do PT e do Congresso.
Juros bancários em alta vão tornar ainda mais escasso o crédito para as empresas, perenizando a retração econômica. A queda da arrecadação indica que as empresas pagam menos impostos não apenas pela queda de seu resultado, mas também por falta de caixa.
O dólar em alta acelerada pressiona a inflação, o que contribui para uma redução adicional do poder de compra da população e deve adiar para muito tarde o necessário corte dos juros do Banco Central, hoje em 14,25%–tudo conspirando para prolongar a recessão e a instabilidade política.
Por mais que tenha sido sombrio o dia, a interrupção do círculo vicioso que alimenta a crise estaria ao alcance da política econômica, cuja tarefa primordial, neste momento, é dissipar os temores de uma escalada da dívida pública. Tudo dependeria de o governo ter algum rumo e credibilidade.