Nelson Jobim será o enviado especial de Dilma às eleições venezuelanas de dezembro próximo. É um excelente nome. Deputado constituinte e presidente do Supremo, ele serviu como ministro com FHC, Lula e Dilma.
Sua autonomia deste governo é conhecida: foi ele quem primeiro alertou sobre sua falta de articulação política. Agora, faz parte do grupo que imagina o pós-Dilma no diálogo PMDB/PSDB.
Jobim já atuou como emissário no passado. Quando Chávez provocou a Colômbia com sua Infantaria, o então ministro pousou na base aérea de Bogotá para costurar uma reação controlada (e sobretudo reversível). Deu certo.
Hoje, as circunstâncias não são boas. O enviado pode ser bom, mas a missão é impossível. O motivo disso é a falta de instrumentos à disposição do governo brasileiro para influenciar o comportamento do regime venezuelano.
Não era para ser assim. Afinal, Lula e FHC trouxeram o chavismo para nossa área de influência por meio de crédito barato, investimento farto e apoio político amplo. Brasília acumulou enorme capital.
Foi tudo gasto quando o Planalto se calou diante da radicalização chavista. O Brasil guardou silêncio quando a polícia ocupou redes de TV e deitou o porrete sobre os estudantes. Nada disse das milícias dedicadas a arrebentar quem ousa se opor ao "projeto cívico-militar". Em vez de criar canais de comunicação com a oposição venezuelana, o governo brasileiro optou por isolá-la.
Nisso, o Planalto teve apoio do grande capital. Quando o chavismo aloprou na repressão aos protestos nos bairros mais pobres de Caracas, Marcelo Odebrecht pediu a palavra. "Vocês podem questionar o que quiserem", disse o empresário, "mas é inequívoco que os objetivos [de Chávez] são nobres".
Nos últimos meses, tudo piorou. O regime cassou o mandato de políticos opositores e prendeu alguns deles para evitar o embaraço de uma eleição competitiva. No embalo, provocou mais uma crise artificial com a Colômbia.
Sem opções de política externa sobre a mesa, Dilma concordou em receber a visita de Diosdado Cabello, caudilho com fama de mafioso que tem chance real de derrubar Maduro nas disputas internas do regime. Maduro, por sua vez, rejeitou a criação de uma comissão de observadores eleitorais, inviabilizando os planos originais do Planalto.
Salvo uma reviravolta improvável, Jobim não terá mandato para averiguar ou denunciar irregularidades nas eleições. Tampouco terá insumos para montar uma coalizão internacional possante. Sem isso, pouco poderá fazer para impedir um desfecho cruento.
Tendo dado toda a corda ao vizinho, o Brasil ficou sem meios para pressioná-lo.