Dito e feito, tudo foi dito e nada foi feito. O governo Dilma Rousseff viveu mais uma semana agônica. Começou na segunda-feira, com o anúncio de um novo pacote fiscal que seria remetido ao Congresso até esta sexta-feira. Terminou com a notícia de que o envio do embrulho foi adiado para a próxima segunda. Impulsionado pela suspeita de que a economia é gerida por um governo de quinta, o dólar foi às nuvens: R$ 3,958. É a segunda maior cotação desde a criação do Plano Real.
Dilma passou a semana negociando com deputados e senadores um ajuste fantasma, que só existe no mundo virtual das planilhas. Amigo do vice-presidente Michel Temer, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, hoje um peemedebista engajado na causa do impeachment, ironizou: “O governo abriu a semana propondo a volta da CPMF e terminou discutindo a legalização do bingo e do jogo do bicho. Não há o menor risco de dar certo.”
O plano de ajuste começou a ser modificado antes mesmo de ganhar a forma de um conjunto de projetos. A CPMF, que vigoraria por quatro anos, pode durar apenas dois anos, admitiu o Planalto aos seus aliados. Mal recebida, a ideia de usar parte da verba das emendas dos parlamentares para compensar os cortes no PAC saiu de cena de fininho. Ficou subentendido que o ectoplasma do ajuste tem a solidez de um pote de gelatina.
Como se fosse pouco, Lula passou as últimas 24 horas desfilando por Brasília como uma espécie de presidente informal. Reunido com ministros do PT, o criador disse que o ajuste fiscal da criatura não é bom. Mas recomendou que o partido ajude a aprovar, mesmo que tenha que tapar o nariz. Uma nova derrota legislativa empurraria Dilma para a antessala do impeachment.
Dilma havia cogitado a sério a hipótese de entregar a Lula algo que ele pede há tempos: o escalpo do ministro Aloizio Mercadante. Por esperteza ou predileção, ela empinou o nome de Kátia Abreu como alternativa para a Casa Civil. Instantaneamente, o petismo passou a enxergar Mercadante como um mal menor. Concluiu-se que, esvaziado, despido da condição de articulador político, restrito às atribuições administrativas, o companheiro poderia continuar onde se encontra.
Mercadante é apenas uma ponta do novelo da pseudoreforma administrativa, outro fantasma que o governo tem dificuldades para trazer ao mundo dos vivos. Anunciada há quase um mês, a intenção de extinguir dez dos 39 ministérios também ficou para a semana que vem. Lula sugere que Dilma aproveite para reformar a Esplanada inteira, acomodando nos ministérios gente com força para impedir a abertura de um processo de impeachment na Câmara. Deseja-se ministros politicamente rentáveis, não necessariamente competentes.
O impeachment também é um fantasma. Mas Dilma passou a semana esforçando-se para mantê-lo vivo nas manchetes. Ela não fala em outra coisa. É golpe pra lá, é golpismo pra cá… Para assegurar um epílogo à altura de mais uma semana agônica, Lula foi à presença de Eduardo Cunha. Pediu-lhe que vá devagar com o andar do impeachment, porque a santa tem pés de barro. Num cenário assim, a oposição está dispensada de se opor.