Ilson Stabile, sócio de uma empresa de softwares que fatura cerca de R$ 260 milhões por ano, criou seu negócio sem nunca ter estudado empreendedorismo.
Começar sem se preparar não é uma exceção. Um levantamento publicado em fevereiro pela associação de fomento ao empreendedorismo Endeavor feito com 5.000 universitários que querem ter seu próprio negócio aponta que 14,1% estudam técnicas e teorias sobre o assunto.
Stabile formou-se em computação e, mesmo sem ter estudado empreendedorismo, resolveu montar a Softplan. "Tínhamos confiança no nosso produto, mas não conhecíamos técnicas para manter a empresa", conta.
A empresa vingou, mas montar um negócio ancorado apenas no palpite e na sensação do mercado não dá sempre certo.
Karime Xavier / Folhapress | ||
Danilo Pereira Santos começou a empreender com 13 anos e precisou estudar para alavancar a empresa |
Danilo Pereira Santos abriu um salão de beleza em 2003 e não prosperou muito, enquanto assistia seus vizinhos, que tinham empreendimentos parecidos, expandirem. "De repente, o negócio do lado crescia, o cara comprava o prédio, mudava para um ponto melhor, e eu continuava sem conseguir lucrar direito. Só pagava contas", diz.
Ele diz que precisou entender como gerenciar um negócio. Apesar de ter tido uma ideia, não tinha técnica para crescer. Com cursos no Sebrae, mudou o perfil da marca. Estabeleceu um público, mudou o nome de "salão", para "barbearia", aprendeu a administrar o fluxo de caixa e conseguiu fazer a cartela de clientes crescer em mais de 50%.
"Empreender é um comportamento. E é possível aprender novos comportamentos", avalia Renato Fonseca, do Sebrae.
Marcus Quintella, 57, coordenador do MBA em Empreendedorismo da FGV, conta que os que nascem com o dom de empreender são minoria. Ele relaciona a capacidade de manter um negócio à gestão. Para ele, empreender é criar, é ter a ideia.
"Tem gente que já sabe olhar o mercado e abrir um bom negócio. Empreender é essa fase de antes. Para manter a empresa, é preciso gerir. E todos precisam aprender a gerir o negócio."
LÁ FORA
O secretário de inovação Marcos Vinicius de Souza, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, afirma que outros países, como os EUA, estão à frente do Brasil no ensino básico de gestão.
Ele diz que é comum encontrar jovens criativos, com bom potencial para criar um novo produto que não têm formação técnica para manter o negócio. "Precisamos separar duas coisas: o conhecimento para se empreender e a atitude para empreender. Não adianta ter a atitude, se não tem conhecimento", explica Souza.
MANUAL
Alunos e professores da faculdade de direito da FGV (Fundação Getulio Vargas) que mantêm uma consultoria de negócios para pequenas empresas lançaram um guia com dicas sobre como regularizar uma empresa.
O Laboratório de Assessoria Jurídica a Novos Negócios é um projeto de extensão criado em 2008.
O livro "Guia Prático do Empreendedor" (ed. GV Rio e Instituto Pares, gratuito; disponível em http://hdl.handle.net/10438/13496) é resultado dos anos de assessoria. O manual aborda empreendimentos individuais e outros modelos de sociedade, como as cooperativas. Também trata de tributação e crédito.
"Queremos causar impacto na vida de pessoas de baixa renda que buscam no empreendedorismo o empoderamento econômico", diz o coordenador da FGV André Mendes.