Gabriela Valente - O Globo
União, estados, municípios e empresas estatais economizaram apenas R$ 25,5 bilhões para pagar juros da dívida pública nos primeiros 5 meses do ano
O Brasil não consegue poupar como deveria para cumprir a meta de economia para pagar juros da dívida pública num momento em que esse custo bate recorde justamente pela ação de subir os juros básicos para conter a inflação. Com isso, o país se distancia cada vez mais do cumprimento da meta de poupança de 66,3 bilhões, ou seja, cerca de 1,1% de tudo o que o país produzirá neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB). Em maio, por exemplo, o país gastou mais do que arrecadou e teve um rombo nas contas públicas de R$ 6,9 bilhões: o pior resultado para o mês desde 2013. Nos cinco primeiros meses do ano, União, estados, municípios e empresas estatais economizaram apenas R$ 25,5 bilhões para pagar juros da dívida pública.
O governo já admite internamente que não há cumprir esse objetivo. O esforço fiscal não chegará nem mesmo a 0,9% do PIB. E mesmo menor que o esperado, essa meta anda cada vez mais distante. De acordo com os dados divulgados nesta terça-feira pelo Banco Central, nos últimos 12 meses, por exemplo, o Brasil carrega um déficit primário de 0,68% do PIB. Isso quer dizer que os entes públicos gastaram R$ 38,5 bilhões a mais que os impostos que arrecadaram.
Para piorar os dados das contas públicas, além dos gastos do governo maiores que as receitas, a conta de juros no fim do mês está cada vez maior porque o Banco Central está num ciclo de alta da taxa Selic para tentar conter a inflação.
Nos cinco primeiros meses do ano, o Brasil gastou nada menos que 198,9 bilhões em juros: um recorde. Isso representa nada menos que 8,4% do PIB. Como não tinha dinheiro no caixa (porque poupou só R$ 25,5 bilhões no período), faltaram R$ 173,4 bilhões para fechar a conta, ou seja, 7,32% do PIB. Sem ter como pagar, esse déficit nominal realimenta a dívida do país.
Nos últimos 12 meses, o setor público arcou com nada menos que R$ 408,8 bilhões em juros: outro recorde. Isso quer dizer que os juros da dívida pública representam 7,22% de toda a produção brasileira.