Dilma Rousseff aderiu à tática de desqualificar os delatores do petrolão. É um truque antigo: em vez de esclarecer o conteúdo da acusação, ataca-se o acusador.
Foi o que ela fez ao criticar o empreiteiro Ricardo Pessoa, que ajudou a bancar sua campanha, foi preso por corrupção e agora colabora com as investigações da Lava Jato.
A presidente está irritada. Nesta segunda, comparou o empresário a Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira, e aos dedos-duros da ditadura militar. "Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é", afirmou, em Nova York.
O discurso afronta a história do Brasil e a inteligência do eleitor. Dilma não é Tiradentes, e o que seus aliados fizeram na Petrobras nada tem a ver com a luta dos inconfidentes. Da mesma forma, as investigações da Lava Jato não guardam semelhança com os abusos dos militares.
Os réus do petrolão respondem a processos na democracia. Alguns fecharam acordo com a Justiça para entregar outros criminosos em troca da redução de pena. O mecanismo é usado em diversos países para desmontar quadrilhas. Se mentir, o delator perde o direito ao benefício.
Dilma conhece bem a diferença, porque foi vítima de torturas na ditadura e sancionou, há menos de dois anos, a lei que estabeleceu as regras da colaboração premiada. Aliás, o texto deixa claro que ninguém pode ser condenado apenas com base no depoimento de réus confessos.
Ao atacar o empreiteiro que patrocinou sua eleição, a presidente deixou de explicar se as doações estavam ligadas a fraudes na Petrobras, como ele disse aos procuradores. Também ficou devendo um comentário sobre as menções a mais dois ministros de seu governo, os petistas Aloizio Mercadante e Edinho Silva.
Antes de o dono da UTC abrir o bico, quatro ex-ministros de Dilma já eram investigados na Lava Jato: Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann, Edison Lobão e Mario Negromonte.