O controle de capitais também foi imposto, mas o premier não deu detalhes sobre as restrições que serão impostas. Tsipras disse que “poupança, salários e aposentadorias estão garantidos”. Também não detalhou quanto tempo as instituições financeiras ficarão fechadas.
Segundo uma fonte, o conselho de estabilidade financeira recomendou que os bancos fiquem fechados por seis dias úteis. Os bancos gregos devem permanecer fechados pelos menos até o próximo dia 5, quando será realizado o referendo convocado pelo primeiro-ministro sobre a aceitação das medidas de austeridade propostas pelos credores internacionais em troca de uma ajuda de € 15,5 bilhões.
Uma fonte disse à Reuters que o conselho recomendou ainda manter os caixas automáticos fechados na segunda-feira e limitar os saques a € 60 por dia a partir da reabertura deles na terça-feira.
Este limite será aplicado àqueles que tiverem cartões gregos. Já os portadores de cartões estrangeiros poderiam sacar o limite máximo definido por seus bancos.
O premier grego afirmou que, mais uma vez, pediu que o atual pacote de resgate dos credores internacionais, que vence na terça-feira, seja estendido por mais alguns dias. Ele culpou os parceiros europeus e o Banco Central Europeu (BCE) pela atual situação e disse que o referendo marcado para o dia 5 está mantido.
— (A rejeição) ao pedido do governo grego para uma curta extensão do programa (de resgate) foi um ato sem precedentes para os padrões europeus, questionando o direito soberano do povo de decidir — afirmou Tsipras em pronunciamento à nação na TV. — Esta decisão levou o BCE hoje (domingo) a limitar la liquidez disponível para os bancos gregos e forçou o banco central grego a recomendar um feriado bancário e restrições sobre os saques dos bancos.
No Twitter, o premier escreveu que nesse momento crítico, o povo deve lembrar que a única coisa a temer é o medo propriamente dito. Afirmou, ainda, que “a dignidade do povo grego frente à chantagem e à injustiça vai enviar uma mensagem de esperança e orgulho a toda a Europa”. Além disso, pediu paciência e compostura nos próximos dias.
Pouco antes, o diretor-presidente do Piraeus Bank, Anthimos Thomopoulos, antecipara a decisão aos jornalistas ao fim de um encontro do conselho de estabilidade financeira do governo grego neste domingo. Já o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, não quis comentar e afirmou apenas que um comunicado seria feito após a reunião do gabinete governamental, que começou em seguida. Horas antes, ele afirmara à BBC que o governo avaliaria o fechamento dos bancos e a imposição de controle de capitais
Mais de um terço dos caixas eletrônicos da Grécia ficaram desabastecidos no sábado devido à correria dos gregos para sacar dinheiro, temendo que o país saia da zona do euro, segundo fontes do setor bancário. À Reuters, uma fonte afirmou que cerca de € 600 milhões teriam sido sacados apenas no sábado.
BC EUROPEU MANTÉM PROGRAMA DE LIQUIDEZ
Mais cedo, o BCE anunciou neste domingo que vai manter os empréstimos de emergência aos bancos gregos em seu nível atual. No entanto, alertou que está “disposto a reconsiderar sua decisão” a qualquer momento. Segundo informações divulgadas na Grécia, o teto desses empréstimos de emergência, que socorrem os bancos gregos e toda a economia do país, se aproximou aos € 90 bilhões nas últimas semanas.
“Considerando as circunstâncias, o Conselho do BCE decidiu manter o nível de fornecimento de liquidez urgente dos bancos gregos decidido na sexta-feira”, afirmou a instituição em comunicado.
O conselho, cujos 25 membros se reuniram em caráter de urgência durante a manhã deste domingo, após o fracasso das negociações entre a Grécia e seus credores, no sábado, “examina com atenção à situação e suas potenciais implicações para sua política monetária”, diz o comunicado.
“(O BCE) está determinado a utilizar todos os instrumentos à sua disposição permitidos por seu mandato”, acrescenta o texto.
A instituição monetária não parece disposta a desviar-se de suas regras, ou seja, a financiar a economia grega além da expiração do plano de ajuda em curso, que terminará na terça-feira.
Antes do pronunciamento de Tsipras sobre o fechamento dos bancos, o presidente do Banco Central da Grécia, Yanis Stournaras, prometeu fazer o que for possível para “garantir a estabilidade financeira” de seu país e evitar a quebra da economia grega, segundo anunciou o BCE.
“O Banco da Grécia, como membro do Eurosistema, vai tomar todas as medidas necessárias para assegurar a estabilidade financeira dos cidadãos gregos nessas circunstâncias difíceis”, afirmou Stournaras, citado no comunicado do BCE difundido após a reunião de governadores da instituição.
Os ministros de Finanças da zona do euro decidiram no sábado não estender o atual programa de resgate da Grécia que expirará, como previsto, na próxima terça-feira, dia 30, quando também vence o pagamento da parcela de € 1,6 bilhão ao FMI.
COMISSÃO EUROPEIA DIVULGA TERMOS DO ACORDO REJEITADO
A Comissão Europeia, em uma ação incomum que destaca a frustração com o governo grego, publicou neste domingo o que disse ter sido a última proposta que os credores fizeram a Atenas antes de as negociações sobre financiamento terem entrado em colapso. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, convocou um referendo para o próximo domingo, pedindo que o povo rejeite a oferta sobre a mesa em Bruxelas.
“No interesse da transparência e para a informação do povo grego, a Comissão Europeia está publicando as mais recentes propostas”, disse o Executivo da UE em comunicado, acrescentando elas haviam sido definidas por ele próprio, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional, levando em consideração propostas gregas feitas durante as últimas três semanas.
Destacando que os negociadores trabalharam até tarde da noite de sexta-feira, a Comissão Europeia disse: “O entendimento de todas as partes envolvidas foi de que essa reunião do Eurogrupo deveria alcançar um acordo abrangente para a Grécia, um que incluísse não apenas as medidas a serem definidas conjuntamente, mas que também teria lidado com necessidades futuras de financiamento e a sustentabilidade da dívida grega”.
O Eurogrupo não conseguiu, entretanto, aprovar o acordo “devido à decisão unilateral das autoridades gregas de abandonar o processo”, disse a comissão em comunicado acompanhado por uma lista de 10 páginas de leis que formalizem promessas de reformas com as quais Atenas teria que concordar em relação a impostos e gastos para receber recursos.
Em meio aos rumores de fechamento dos bancos gregos, mais tarde confirmados, o FMI disse que vigiará atentamente a evolução da situação na Grécia e “nos países vizinhos” e continua “disposto a dar sua assistência” em caso de necessidade, afirmou neste domingo sua diretora-geral do Fundo, Christine Lagarde.
— Os próximos dias serão importantes (...). O FMI continuará vigiando a situação na Grécia e nos países vizinhos e continua disposto a dar sua assistência em caso de necessidade — disse Lagarde, afirmando, ainda, que está “decepcionada” com o fracasso das conversações entre Atenas e seus credores.