quinta-feira, 8 de agosto de 2024

A lição de humildade que a “Rainha Marta” provavelmente não vai aprender, por Paulo Polzonoff Jr.

 

Marta: majestade de um reino artificial.| Foto: Rafael Ribeiro/CBF


Quando percebi, estava assistindo ao jogo entre Brasil e Espanha. Sim, futebol feminino – com direito a narração e comentários também femininos. Dos quais não gosto e continuarei não gostando enquanto me for permitido. Mas esse não é o ponto. O ponto é que o Brasil jogou bem (para os padrões do futebol feminino) e muita gente credita isso à ausência de Marta, aquela que insistem em chamar de “rainha”, sei lá por quê.

Marta é uma figura fascinante de um esporte igualmente fascinante. Porque tanto a jogadora quanto o futebol feminino me parecem expressões de uma artificialidade muito típica do nosso tempo, e que mistura ideologia e vagos interesses comerciais. Como se o futebol feminino pudesse, na marra, ter a mesma força, a mesma influência cultural e a mesma renda do futebol masculino.

Por isso vou dizer aqui que o futebol feminino é produto da engenharia social aplicada ao esporte. E Marta, coitada, foi instrumentalizada para se tornar o Pelé dessa invencionice fracassada. Foi assim, com essa genialidade artificial, que ela virou “rainha” e, neste momento, uma majestade indesejada na final olímpica. Quando está claro que o mito Marta já não se sustenta.


Paradigma do sucesso

Aliás, tenho pensado muito no que vou chamar pretensiosamente aqui de “paradigma do sucesso”. Um bom nome de banda de punk rock, por sinal. Me refiro às coisas que fazemos e às quais nos submetemos a fim de alcançarmos essa cenoura que colocaram diante de nós: o tal do sucesso mundano. Do dinheiro a rodo. Da fama. Da aceitação. Dos likes. Do poder.

Marta, coitada, é só mais um exemplo de alguém que se perdeu nesse paradigma. Que não soube lidar com a fama, muito menos com o que o público e principalmente os ideólogos esperavam e ainda esperam dela. Daí a confusão toda entre o suposto talento da jogadora e os vários estandartes políticos que ela empunha. Dá raiva, sim, num primeiro momento. Mas depois dá pena, porque é claro que, uma vez revelada a farsa, a outrora rainha será reduzida a uma plebeia desnecessária. Ou melhor, descartável. Coitada.

Como, por sinal, são descartáveis todos os ídolos de barro mole do nosso tempo. Porque essa artificialidade toda não se restringe, obviamente, ao futebol feminino e está por aí, na cultura e na política, entre influencers e gênios de ocasião que são exaltados num dia e cancelados no outro, incapazes de perceber que o sucesso que buscam é, na verdade, vento. Ar. Nada.


Será?

Mas a vida, veja só!, a vida sempre oferece uma saída para aqueles que se percebem presos à armadilha do sucesso. Ou, por outra, dessa promessa falsa de um sucesso idem. A saída é uma e sempre a mesma: a humildade de se reconhecer produto de interesses alheios. No caso de Marta, de se reconhecer símbolo máximo de uma categoria esportiva até que simpática, mas infelizmente transformada em bandeira político-identitária. Para ela, a oportunidade se apresentará no próximo sábado (10).

Será que a jogadora de 38 anos terá humildade o bastante para reconhecer que o time brasileiro é melhor sem ela? Será que Marta se oferecerá para começar o jogo – o último da carreira olímpica dela – no banco, permitindo, assim, que a nova geração brilhe ou fracasse tentando? Será que a outrora rainha conseguirá se livrar desse peso todo que colocaram sobre os ombros dela, e que é tão artificial quanto inútil?

São muitos os “serás” e me ocorre agora fazer uma ponte entre o dilema de Marta e certos líderes políticos que, viciados no poder e na popularidade que a eles conferem um ar de santo, relutam em aceitar que seu tempo passou, que suas glórias e derrotas hoje são tema das aulas de história e que já está mais do que na hora de fomentar o surgimento de novas lideranças. Para bom entendedor, meia pa ba.



 Paulo Polzonoff Jr., Gazet do Povo