Foto: STF)
Mais de 6 gigabytes de áudios, mídias e mensagens trocadas por assessores diretos do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral começaram a ser divulgadas pelo jornalista Glenn Greenwald.
Ele revelou no início da noite desta terça-feira (13) detalhes da utilização “fora do rito” de poderes do TSE contra alvos do ministro Moraes em ações no STF. Segundo os áudios divulgados pelo site do jornal Folha de S.Paulo, foi revelada a coordenação do ministro, que também presidia o TSE e encomendava relatórios feitos por juízes eleitorais para que depois fossem usados no STF contra alvos bolsonaristas.
As reações em Brasília e, em especial, na Praça dos Três Poderes foram imediatas.
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) foi à Tribuna da Câmara dos Deputados nesta terça para defender o impeachment de Alexandre de Moraes e chamou as revelações de um “modus operandi” do “esquema de perseguição política cruel”. O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) também foi às redes sociais para se juntar ao coro de parlamentares e autoridades que reagiram à matéria.
O ex-deputado Deltan Dallagnol, que foi procurador na operação Lava Jato, disse que “se as mensagens” reveladas nesta terça-feira forem verdadeiras, o ministro Moraes pode ter até “cometido crime”.
“Caiu a casa do Alexandre de Moraes, e dessa vez, definitivamente-não há como, depois das revelações de conversas de assessores do ministro buscando investigar ilegalmente opositores a Lula. Fica claro o quão criminoso é esse ditador de Toga”, disse o deputado Marcel Van Hattem.
O deputado também pediu a instalação da CPI do Abuso de Autoridade e disse que agora, a investigação tem motivos ‘de sobra’ para ocorrer. Ele criticou a Polícia Federal, chamando de ‘capangas’ delegados da corporação, que atendem aos mandos do ministro. O gaúcho concluiu dizendo que Moraes é ‘criminoso’ e ‘pagará por seus crimes.
Entenda
Segundo denúncia assinada pelo jornalista Gleen Greenwald, o ministro Moraes teria ordenado a elaboração de relatórios para embasar suas decisões no inquérito das fake news, durante e após as eleições de 2022. As ordens teriam sido feitas por mensagens de WhatsApp, de forma não convencional.
As conversas suspeitas eram trocadas, segundo a Folha de S.Paulo, principalmente, entre o ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, Eduardo Tagliaferro (de terno), e Airton Vieira, juiz instrutor de Alexandre de Moraes no STF. As pastas chefiadas por Moraes funcionaram, de acordo com a denúncia, como braços de um esquema organizado contra aliados do ex-presidente, Jair Bolsonaro.
Uma das conversas reveladoras expõe o pedido de relatório e monitoramento das publicações realizadas pelos jornalistas Rodrigo Constantino e Paulo Figueiredo, ambos apoiadores de Bolsonaro.
Um dos assessores de Moraes no STF pergunta a Tagliaferro, do TSE, se ele pode conversar. E a conversa segue: “Posso sim, posso sim, é por acaso [o caso] do Constantino?”.
A mensagens também mostram que houve animosidade por parte de Moraes pela obtenção das entregas. “Vocês querem que eu faça o laudo?”, “Ele cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia” e “Ele tá bravo agora” são algumas das mensagens.
Tagliaferro foi exonerado do TSE em maio de 2023, após ser preso sob suspeita de violência doméstica. Sobre as acusações de conchavo contra bolsonaristas, ele respondeu que “cumpria todas as ordens que me eram dadas e não me recordo de ter cometido qualquer ilegalidade”.
A Folha de São Paulo registra o número de duas dezenas de casos em que houve a solicitação de produção de relatórios extraoficiais pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
Detalhamento
Depois de Tagliaferro (TSE) finalizar a primeira versão de documento no relatório sobre Constantino, Airton Vieira (STF) diz que Moraes solicita alterações, com novos prints de publicações do jornalista.
“Quem mandou isso aí, exatamente agora, foi o ministro e mandou dizendo: vocês querem que eu faça o laudo? Ele tá assim, ele cismou com isso aí. Como ele está esses dias sem sessão, ele está com tempo para ficar procurando“, diz a mensagem enviada às 23h59 daquele dia.
E completa: “É melhor por [as postagens], alterar mais uma vez, aí satisfaz sua excelência”. ”
Por conta de publicações com críticas ao Supremo, Moraes ordena a quebra de sigilo bancário de Constantino e Figueiredo, bem como o cancelamento de seus passaportes, bloqueio de suas redes sociais e intimações para que fossem ouvidos pela Polícia Federal.
Diário do Poder