O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou nesta segunda-feira (30) que decidiu multar a empresa Facebook em R$ 6,6 milhões por suposto compartilhamento indevido de dados de usuários.
A empresa será intimada e poderá apresentar recursos à decisão, no prazo de dez dias. O Facebook negou irregularidades.
A Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) do Ministério da Justiça começou a investigação após denúncia publicada pela imprensa, em abril de 2018, informando que usuários do Facebook no país poderiam ter sido vítimas de compartilhamento indevido de dados pela consultoria de marketing político Cambridge Analytica.
O episódio ganhou visibilidade depois que a imprensa revelou o uso indevido das informações, inclusive em processos eleitorais, como a disputa presidencial dos Estados Unidos (EUA) em 2016.
Após a apuração, o governo brasileiro informou que foi identificada uma prática abusiva da empresa, investigada por violação dos dados pessoas dos usuários da plataforma levando em consideração a forma de consentimento do consumidor.
O processo administrativo apontou que ficou evidente que dados de cerca de 443 mil usuários da plataforma "estavam em disposição indevida pelos desenvolvedores do aplicativo 'thisisyourdigitallife' para finalidades, no mínimo, questionáveis, e sem que as representadas conseguissem demonstrar eventual fato modificativo de que tal número foi efetivamente menor”.
"This is Your Digital Life" (Esta é sua vida digital) é um aplicativo que teria sido usado pela assessoria Cambridge Analytica para obter dados pessoais de usuários do Facebook. A consultoria britânica é suspeita de usar as informações de milhões de usuários da plataforma digital para fins eleitorais.
Para o Ministério da Justiça, a rede social deveria “ter um cuidado muito maior na gestão desses dados, uma vez que o modelo de consentimento adotado teve implicações relevantes para o número de pessoas com dados expostos”.
O processo concluiu, portanto, que houve falha do Facebook em oferecer a proteção necessária aos usuários.
O ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) usou uma rede social para falar sobre o caso.
“O futuro da proteção do consumidor está nas redes digitais. Passou o tempo no qual o problema era a troca do liquidificador quebrado (embora este também precise ser substituído)”, escreveu o ministro.
Em julho deste ano, o Facebook aceitou um acordo para pagar mais de US$ 5 bilhões para encerrar seus casos com as autoridades regulatórias dos Estados Unidos quanto ao escândalo de dados da Cambridge Analytica.
O acordo dispõe que o Facebook estabeleça um comitê de privacidade, independente do conselho da empresa, e que crie postos executivos de fiscalização das normas de privacidade.
Em outubro de 2018, o órgão regulador de informação do Reino Unidos (Information Comissioner´s Office) multou o Facebook em £ 500 mil (R$ 2,3 milhões, à época) pela violação da privacidade de usuários no escândalo da Cambridge Analytica.
OUTRO LADO
Em nota, o porta-voz do Facebook diz que está focado em proteger a privacidade das pessoas.
"Temos feito mudanças na nossa plataforma, restringindo as informações que desenvolvedores de aplicativos podem acessar. Não há evidência de que dados de usuários no Brasil tenham sido transferidos para a Cambridge Analytica. Estamos avaliando nossas opções legais sobre este caso.
Thiago Resende, Folha de São Paulo