Os candidatos à Presidência têm dividido os holofotes com seus assessores econômicos, de uma maneira incomum pelo menos desde 2002.
O grupo tem pouco apelo popular e abusa de uma linguagem incompreensível ao eleitor comum, mas é visto sobretudo por empresários e pelo mercado financeiro como a chave para entender a forma como o nó econômico será desatado pelo próximo governo.
Antes mesmo de começar a campanha eleitoral, os assessores econômicos dos presidenciáveis vinham sendo procurados por associações de classe, universidades, organizações do terceiro setor e imprensa.
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Os compromissos são intensos e, em alguns dias, é possível ouvi-los em dois ou até três eventos diversos.
Não poderia ser diferente, dizem especialistas, por causa de esta ser a primeira eleição geral após uma das crises econômicas mais agudas já registradas no país.
No exemplo mais estridente, o do candidato Jair Bolsonaro (PSL), a avaliação é que o economista Paulo Guedes funcionaria quase como uma "Carta aos Brasileiros" em carne e osso, em uma referência ao documento escrito pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para acalmar os mercados em 2002.
Curiosamente, Guedes é o economista que menos se dispõe a participar da maratona de entrevistas, debates e sabatinas feita com os assessores.
Já há quem avalie, no entanto, que, após o ataque sofrido por Bolsonaro em encontro com eleitores na quinta-feira (6), a procura por Guedes deva explodir.
A exposição derivada do atentado e a precificação do drama que envolve o candidato devem contribuir para isso, diz um analista que optou pelo anonimato.
Bolsonaro terceirizou as questões econômicas de sua campanha, e isso acabou contribuindo para o maior protagonismo dos economistas das outras campanhas, diz análise da XP Investimentos.
O destaque dado aos assessores econômicos se justifica também porque há uma busca geral por um candidato que dê perspectiva de futuro nessa área, embora o desafio do ponto de vista de estratégia eleitoral seja traduzir as questões mais técnicas para a sociedade, diz a XP.
Carlos Melo, analista político e professor do Insper, diz que a tendência geral é pensar que os problemas do país são derivados do mau momento econômico e que um grande ministro da Fazenda resolverá tudo, daí o grande interesse pelos economistas.
Segundo Melo, ao não conseguir se expressar nas questões econômicas, Bolsonaro montou uma estratégia em que acabou definindo não só o seu braço direito, mas o seu "primeiro-ministro".
O curioso é que, mesmo em menor intensidade, outros candidatos também correram atrás de seus "selos de qualidade".
"Geraldo Alckmin [do PSDB] não é o Bolsonaro, mas precisa de Persio Arida, assim como Marina Silva [da Rede], de André Lara Resende e do [Eduardo] Giannetti", diz Melo.
O analista considera um equívoco a atenção excessiva, em especial do mercado financeiro e de grandes empresários, dada aos temas econômicos em detrimento, por exemplo, de uma necessária reforma política.
Ele diz, porém, ser compreensível diante da urgência da questão fiscal, do crescimento pífio e de 13 milhões de desempregados.
Luiz Felipe D'Ávila, coordenador do programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB), concorda.
Segundo ele, as preocupações em torno das questões econômicas se destacam em um momento de recessão, o que é natural.
"A apreensão com o emprego e com a renda atraem os holofotes para os economistas, mas a reforma do Estado é mais importante", diz.
Os próprios assessores econômicos apontam o papel de destaque que desempenham no pleito.
"É como se a gente fosse uma grife que começou com o Paulo Guedes sendo escolhido pelo Bolsonaro", diz Ana Paula Oliveira, assessora econômica de Álvaro Dias (Podemos).
Para Nelson Marconi, coordenador da campanha de Ciro Gomes (PDT), a economia acabou assumindo um protagonismo maior em razão da percepção de que a solução para os entraves do país passa por um ajuste econômico.
"É claro que é preciso ter uma estratégia política por trás de tudo isso, mas acho mais importante a discussão em cima de temas econômicos do que de fofocas", diz Marconi.
Guilherme Mello, economista da campanha do PT, diz que, em meio à grave crise econômica, é natural que os economistas sejam chamados para conversar.
"Mas acho engraçado que um candidato não tenha conhecimento econômico e liderança suficientes e precise se ancorar em uma figura até um pouco exótica, que é o economista, que não tem a popularidade e o conhecimento do mundo político", diz Mello.
Embora Mello e o economista Marcio Pochmann costumem falar em nome do PT, fonte ouvida pela Folha garante que Fernando Haddad enfatiza em reuniões fechadas que é sua a palavra final sobre economia.
Peça-chave nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, hoje no partido Novo, diz que sempre houve um espaço privilegiado para os economistas dos candidatos desde a redemocratização.
"Quando a disputa era mais polarizada, esse debate era mais restrito", diz.
A surpresa, aponta, é o nível de convergência dos debates.
"Todo mundo está falando de reforma da Previdência e tributária, até mesmo a esquerda. Há certo esforço para se diferenciar do consenso trazendo uma pimentinha a mais na ideia, mas não difere muito do que todo o resto, o que é muito bom.