sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

"Seu ilustre representante", por Ruy Castro

Victor R. Caivano - 18.abr.2012/Associated Press - Urbano Erbiste/Ag.OGlobo
FILE - In this April 18, 2012 file photo, Rio de Janeiro Gov. Sergio Cabral, right, attends the inauguration of a new Peacemaker Police Unit (UPP) in Fazendinha slum inside the Alemao slum complex in Rio de Janeiro, Brazil. Federal police on Thursday, Nov. 17, 2016, arrested Cabral in his Rio apartment. Police commissioner Tacio Muzzi says the former state governor is suspected of receiving millions of dollars in bribes in exchange for building contracts. (AP Photo/Victor R. Caivano, File) ORG XMIT: XLAT119Rio de Janeiro (RJ) - 15/12/2016 - O juiz federal Marcelo da Costa Bretas que autorizou a prisao de Sergio Cabral .Foto: Urbano Erbiste / Agencia Globo ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e o juiz Marcelo Bretas


Folha de São Paulo

O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelo enjaulamento de Sérgio Cabral, descreveu outro dia a diferença entre a condenação de um político corrupto e de um empresário idem. "Os políticos corruptos são parasitas, não têm vida própria", disse. "Um empresário [...] consegue se reerguer. Mas o político sem poder morre de fome".

Imagino que o juiz tenha se referido à maior ou menor capacidade desses elementos de, cumpridas suas condenações, retomar uma vida profissional fora do crime e da política. Marcelo Odebrecht, por exemplo, formou-se em engenharia civil e deve saber tudo de construção pesada, indústria petroquímica e engenharia ambiental. Mas meteu-se em sinistros projetos governamentais, com o dinheiro da Petrobras e do BNDES, e a Lava Jato o pegou. Fora das grades, no entanto, Odebrecht talvez consiga limpar seu nome e o de sua empresa.

Já os membros dos nossos Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas, em grossa maioria, só se sustentam porque, depois de uma eleição paroquial que lhes conferiu um mandato de vereador ou coisa assim, promoveram-se a federais e se colocaram em posição de encaminhar projetos de poderosos das várias áreas, por um dinheiro nunca sequer sonhado. Falando português claro, sua função na política é esta: lesar, digo, usar o país em proveito próprio.

Como passam três dias em Brasília e os demais em seus grotões, nunca se livraram da craca provinciana. Há pouco, um deles confundiu a proclamação da República com o grito da Independência; outro chamou Bertold Brecht de Bertoldo Brecha —e não os veja como exceções. Muitos mal sabem ler. Mas são bons de negociatas e protegidos pelo foro privilegiado.

Bretas tem razão. Tire o poder de um desses gajos e descubra quem você elegeu para representá-lo.