segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Ministério Público Federal desiste de fazer perícia em recibos entregues pela defesa de Lula

Thiago Herdy - O Globo



Recibos de aluguel apresentados por Lula têm datas inexistentes - Reprodução


O Ministério Público Federal (MPF) desistiu nesta segunda-feira de levar adiante o pedido de perícia nos recibos de aluguéis do apartamento vizinho ao utilizado atualmente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo (SP). Os documentos foram apresentados pela defesa do ex-presidente para sustentar que ele teria pago pelo aluguel do imóvel entre 2011 e 2015.

Dono do apartamento, o empresário Glaucos da Costamarques afirma nunca ter recebido valores do ex-presidente, apesar de ter registrado pagamentos em sua declaração de imposto de renda. O MPF identificou transferências bancárias de uma fornecedora da Odebrecht a Glaucos na época da compra do imóvel. O órgão sustenta que o imóvel é parte de propina paga ao ex-presidente pela empreiteira.

Nesta segunda-feira, os procuradores informaram crer que os recibos entregues pela defesa de Lula são "ideologicamente falsos". Eles sustentam que foram firmados "exclusivamente para dar amparo dissimulado à locação do apartamento nº 121", já que o locatário declarou não ter recebido os valores citados nos documentos.

De acordo com o MPF, a perícia é desnecessária em função do "acervo probatório" que sustentaria, "de forma inequívoca", que os recibos constituem "falsos ideológicos" e "não correspondem a declarações" feitas no curso do processo.

Os procuradores citam, entre outros elementos, depoimento do contador de Glaucos, João Muniz Leite, que afirmou ter colhido assinaturas para os recibos mesmo sem saber se os aluguéis tinham sido pagos; registros de ligações telefônicas entre Glaucos e Roberto Teixeira, advogado de Lula, no período em que os recibos teriam sido produzidos; e declarações de Glaucos em dois depoimentos à Justiça, negando ter recebido os valores.

OUTRO LADO

Em nota divulgada nesta segunda-feira, a defesa de Lula afirma que o MPF desistiu da perícia porque "os documentos são autênticos" e destacou o fato de Glaucos ter afirmado, em depoimento, que assinou os papéis.

"Quem emitiu os recibos e concedeu a quitação à D. Marisa pelos aluguéis de 2011 a 2015 foi o sr. Glaucos da Costamaques, sendo absolutamente descabido atribuir a Lula ou aos seus familiares a prática de qualquer falsidade", escreveu a defesa de Lula, em nota.

Os advogados do ex-presidente sustentam que o aluguel teria sido pago a Glaucos, nos anos citados, em espécie. Para a defesa, as acusações contra Lula "estão alicerçadas em factóides e construções por associação e sem provas".

GLAUCOS PEDE QUE HOSPITAL FORNCEÇA VÍDEOS

A defesa de Glaucos pediu, nesta segunda-feira, ao juiz Sergio Moro que requeira os registros de vídeos internos do hospital Sírio Libanês para comprovar que Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula, visitou o empresário na unidade. Moro pediu ao hospital os registros de entradas e saídas, mas a unidade informou que não consta nenhuma visita de Teixeira ao empresário.

Glaucos sustenta que estava internado no hospital em dezembro de 2015, quando recebeu visita de Teixeira para tratar dos pagamentos dos aluguéis do apartamento usado pelo ex-presidente e vizinho a cobertura onde mora em São Bernardo do Campo.

O empresário disse que somente a partir deste encontro com Teixeira é que passou a receber em dinheiro os aluguéis de Lula. Antes disso, entre 2011 e novembro de 2015, ele sustenta que mesmo não recebendo nada de Lula declarava os valores no imposto de renda a pedido de José Carlos Bumlai, seu primo e amigo de Lula.